Em relação às publicações deste blog, os leitores do mesmo já observaram que compartilhamos textos produzidos por autores de grandes
tradições religiosas como o
Hinduísmo,
o Budismo e o Cristianismo. E o objetivo que nos move a compartilhar esses textos tão belos e enobrecedores é no sentido de auxiliar a demonstrar a universalidade, a auspiciosidade, a sublimidade,
a excelência, a sabedoria
do elevado princípio da não-violência, do amor e da compaixão
pelos seres, bem
como
da superioridade do vegetarianismo, para que todas as pessoas possam adotar o vegetarianismo e seguir pelo iluminado caminho da compaixão por todos os seres. Desta forma, na oportunidade compartilhamos
o belíssimo texto "Devolvendo a liberdade", o qual aborda algo do
imenso
amor
e enorme
compaixão
que
o venerável
Lama Kalu Rinpoche
sentia
pelos seres vivos,
ele
que, vivendo neste mundo entre os anos de 1904 e 1989, é
tido como um dos grandes mestres budistas do século XX. Que o exemplo de Kalu Rinpoche fale aos corações e a todos inspire.
Venerável Mestre Kalu Rinpoche
Kalu
Rinpoche tinha uma grande afeição pelos animais. Ele gostava muito
de visitar os zoológicos e recitar mantras para os animais
enjaulados. Gostava também de lhes devolver a liberdade. Ele o fazia
cada vez que podia, resgatando, mais especialmente, centenas,
milhares de peixes, que comprava no mercado de Siliguri, a grande
cidade na planície abaixo de Sonada, em Benares ou em outros locais.
Durante suas estadas em Hong Kong e em Taiwan, resgatava um grande
número de peixes, de moluscos, de crustáceos, de tartarugas e de
pássaros. Desejando que essa prática fosse estabelecida
regularmente, fundou uma associação encarregada de coletar fundos e
organizar cada mês a soltura de animais. O texto que segue é uma
carta escrita nessa ocasião.
"Aos
benfeitores e discípulos de Taiwan que tem fé e devoção:
Todos
os seres, quaisquer que sejam, consideram seu corpo e sua vida muito
caros e lhes são muito apegados; daí surgem as dores, os medos e os
sofrimentos. Caso nos trespassassem, nos batessem e nos dessem
pancadas para nos matar, qual não seria nossa angústia e nossos
sofrimentos! Os animais não nos fazem nenhum mal; entretanto, nós
nos apoderamos deles contra sua vontade, nós lhes infligimos
insuportáveis sofrimentos físicos e nós lhe tomamos a vida.
Esses
animais, durante numerosas vidas passadas, foram nosso pai e nossa
mãe. Nós mesmos gozamos agora - resultado de atos anteriores
virtuosos - uma existência dotada de uma certa liberdade e de uma
certa tranquilidade. Se, graças a ela, podemos salvar da morte e do
sofrimento animais que nada podem fazer para se proteger, com isso
retribuímos a bondade de nossos pais em vidas passadas. A supressão
de uma única vida leva ao renascimento no inferno durante um kalpa.
Em seguida, quinhentas vezes nossa vida será tomada de volta; enfim,
no curso de numerosas existências teremos um corpo feio e miserável
e contínuas ameaças pesarão sobre nossa vida. Em contrapartida,
salvar um único ser da morte e do sofrimento leva, durante centenas
de vidas, ao renascimento como deva ou homem dotado de boas
condições de existência; teremos uma vida longa, boa saúde,
abundância de bens, perfeitas felicidade e tranquilidade. Se, mais
particularmente, dermos substâncias sagradas que liberam pelo
paladar aos animais, areia que libera pelo contato, e se recitarmos
para eles os nomes dos Budas e mantras, onde quer que nasçamos
teremos uma vida longa, beleza física, voz agradável, grande
sabedoria, riqueza e companhia de bons amigos; nossos desejos serão
atendidos, nasceremos em um país agradável, estaremos livres de
todas as ameaças e encontraremos o dharma; no momento da morte, não
experimentaremos os sofrimentos da agonia, nunca cairemos nos mundos
inferiores, viveremos em harmonia com todos e renasceremos finalmente
no Campo de Beatitude. Os benefícios são ilimitados já que levam,
numa perspectiva última, ao Despertar. Tudo isso foi explicado pelo
próprio Buda.
Assim,
quando com fé e grande compaixão, fazemos aos animais sem proteção
nem recursos, aos pássaros, aos passarinhos, aos peixes, às
tartarugas e a todas as espécies de animais minúsculos ou grandes,
os quatro tipos de dons - dom do dharma, dom do amor, dom de bens
materiais e dom da segurança -, e quando ao mesmo tempo só lhes
desejamos o bem, não estaremos fazendo um benefício apenas para
eles, mas para nós mesmos, que obteremos nesta própria vida,
longevidade, saúde, riqueza e ausência de adversidade; em todas
nossas vidas futuras, obteremos esses mesmos benefícios que
proporcionamos aos outros.
É
inútil ter esperanças ou dúvidas quanto a isso, já que a lei do
karma é inelutável. Eu lhes peço, portanto, para tomar parte nesta
prática virtuosa, de onde retirarão, para vocês mesmos e para os
outros, temporariamente e definitivamente, benefícios e felicidade,
filiando-se a associação "Tirar dos mundos inferiores"
e trabalhando com ela."
Kalu
Rinpoche - Taipei, 23 de abril de 1986
Fonte: http://quietamente.blogspot.com/2011/08/devolvendo-liberdade.html
acesso em 03/12/2018