Tempo virá em que os seres humanos se contentarão com uma alimentação vegetariana e julgarão a matança de um animal inocente como hoje se julga o assassínio de um homem.” Leonardo da Vinci

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Vegetarianismo e compaixão em Sutra Budista


Retornando às publicações neste blog, na oportunidade tenho a grata satisfação de compartilhar o oitavo capítulo do iluminado texto denominado “Lankavatara Sutra”, sendo que presentemente compartilho duas versões que encontrei, uma abreviada e outra mais longa e completa, com diferentes traduções, pois, como ocorre em relação a textos sagrados de outras religiões, como a Bíblia Sagrada, o Sutra Lankavatara é disponibilizado em  mais do que apenas uma tradução. O Sutra Lankavatara pertence ao budismo Mahayana, e em seu oitavo capítulo aborda, em inspirado, elucidativo, auspicioso diálogo entre Buda (também chamado de Tathagata, entre outros títulos sagrados) e seu discípulo Bodhisattva-Mahamati, reveladoras e importantes questões abordando a prática de comer carne, suas causas e consequências na vida física, psíquica, espiritual de seres humanos e de animais, bem como sobre o regime vegetariano e seus imensos benefícios. Aborda, ainda, a questão da compaixão pelos seres sencientes. O iluminado texto contém, logo em seu início, a seguinte inspirada e comovente declaração sobre vegetarianismo, compaixão e espiritualidade expressa pelo Bodhisattva-Mahamati: “Esses comedores de carne, ao abandonarem esse desejo, irão buscar o Dharma e considerar todos os seres com amor, como se fossem seus filhos, e terão grande júbilo e compaixão pelos seres. Desenvolvendo compaixão eles irão colocar a si mesmos, com disciplina, nos estágios para a senda dos bodhisattvas e se tornarão despertos em grande iluminação”. De início, compartilharemos a tradução mais breve, e, após, a mais longa, completa, como já referido, e que contém, ao final do texto, importantes e esclarecedoras referências.




Lankavatara sutra - budismo mahayana

Capítulo 8 – Dharani
Naquela época, Mahamati, o Bodhisattva-Mahasattva pediu ao abençoado por mais explicação: Fale-me Abençoado, Tathagata, Iluminado, sobre o mérito e vício relativo à questão de comer carne; para que deste modo eu e outros bodhisattvas do presente e do futuro possamos ensinar o Dharma a fim de fazer com que os seres abandonem seu ávido apego por carne, seres que sob a influência da energia do hábito relativo às existências carnívoras anseiam intensamente por comidas de carne. Esses comedores de carne, ao abandonarem esse desejo, irão buscar o Dharma e considerar todos os seres com amor, como se fossem seus filhos, e terão grande júbilo e compaixão pelos seres. Desenvolvendo compaixão eles irão colocar a si mesmos, com disciplina, nos estágios para a senda dos bodhisattvas e se tornarão despertos em grande iluminação. Abençoado, mesmo aqueles filósofos que mantém ideias errôneas e estão apegados às visões do Lokayata tais como o dualismo da existência e não-existência, o niilismo e o idealismo, mesmo eles irão proibir o consumo de carne e irão eles mesmos pararem de consumir. Ó Grande Instrutor, aquele que promove a misericórdia é um ser iluminado; não há nada de ruim em impedir o consumo de carne, não só para si mesmo, mas para os outros também. Sim, deixe que O Abençoado, cujo coração está preenchido com amor pelo mundo todo, que considera todos os seres como seus filhos e que possui grande compaixão em conformidade com seus sentimentos bondosos, ensine-nos sobre o mérito e vício relativo ao consumo de carne, de modo que eu e outros bodhisttavas possamos ensinar o Dharma. O Iluminado respondeu:Escute então, Mahamati, e reflita bem; Eu lhe direi.”Certamente, ó Iluminado.” Respondeu Mahamati, o Bodhisattva- Mahasattva. E pôs-se a ouvir.

O Iluminado disse então a ele: Por inúmeras razões, Mahamati, o Bodhisattva, cuja natureza é compaixão, não deve comer nenhuma carne; Explicarei: Mahamati, nessa longa jornada de renascimentos, não há um ser que, tendo assumido a forma de um ser vivo, não tenha sido sua mãe, pai, irmão, irmã, filho ou filha, ou outro dos laços que unem; ao renascer poderão adquirir a forma de animais, selvagens ou domésticos; assim sendo, como pode um Bodhisattva-Mahasattva, que tenciona aproximar-se de todos os seres como se fossem ele mesmo e praticar as verdades ensinadas pelo Buda, comer a carne de seres vivos que possuem a mesma natureza que ele mesmo? Mahamati, mesmo o Rakshasa que ouve os discursos do Tathagata sobre a elevada essência do Dharma alcança a percepção da necessidade de proteger o Dharma e ter compaixão; até mesmo ele evita o consumo de carne. Então Mahamati, onde quer que haja evolução de seres vivos, que as pessoas divulguem com alegria o sentimento de equanimidade, e pensem que todos os seres vivos devem ser amados como filhos únicos, que todos deixem de comer carne! A carne de um cachorro, jumento, búfalo, cavalo, homem ou qualquer outro ser, não é para ser comida. O Bodhisattva, portanto, não deve comer carne.

Pelo amor à pureza, Mahamati, o Bodhisattva deve evitar a carne, que nasce através de sêmen e sangue, etc. Por receio de causar sofrimento a outros seres, Mahamati, o Bodhisattva, que se dedica a atingir elevada compaixão, não deve comer carne. Para ilustrar: quando um cão vê à distância um caçador, cujo desejo é comer carne, ele se apavora e pensa “eles são assassinos, irão me matar”. Da mesma maneira, Mahamati, até mesmo os animais que vivem nos céus, na terra e na água, ao verem comedores de carne à distância, perceberão nos caçadores, por seu aguçado olfato, o desejo por carne, e fugirão de tais pessoas o mais rápido que puderem; pois tais pessoas são para os animais a ameaça de morte. Por esta razão, Mahamati, que o Bodhisattva que se dedica ao caminho da iluminação, que busca ater-se à grande compaixão, deixa de comer carne, para não aterrorizar os seres vivos. Mahamati, a carne, morta por pessoas sem sabedoria, está cheia de um odor fétido e consumi-la traz má reputação, o que faz com que pessoas sábias se afastem; O Bodhisattva não come carne. A comida dos sábios, Mahamati, é a mesma dos Rishis. Não consiste de carne e sangue. Portanto, Mahamati, o Bodhisattva não come carne.

A fim de proteger a mente de todas as pessoas, o Bodhisattva, cuja natureza é pura e santa e que não deseja que o ensinamento do Buda seja distorcido, abstém-se de carne. Pois, Mahamati, há pessoas que falam mal do ensinamento do Buda, elas dizem: “Porque aqueles que dizem estar vivendo a vida de um Sramana ou um Brâmane rejeitam a comida consumida pelos Rishis e, como animais carnívoros vagam pelo mundo aterrorizando as criaturas, ignorando a vida que deve ser levada pelo Sramana e destruindo os votos do Brâmane? Não há nenhum Dharma em suas mentes, nenhuma disciplina.” Há muitas pessoas que por essa causa tornam-se mentalmente desfavoráveis aos ensinamentos do Buda. Por esta razão, Mahamati, a fim de proteger a mente das pessoas, o Bodhisattva, cuja natureza é cheia de misericórdia e que deseja evitar que o ensinamento do Buda seja distorcido, abstém-se de carne.

Mahamati, o odor fétido emitido por um cadáver é ofensivo. Que o Bodhisattva abstenha-se de carne. Quando carne é queimada, seja de um homem morto ou de outra criatura, não há distinção entre o odor. Qualquer tipo de carne, quando queimada, emite um odor igualmente nocivo. Portanto, Mahamati, que o Bodhisattva, que deseja a pureza em sua prática, abstenha-se totalmente do consumo de carne.

Mahamati, quando filhas da boa linhagem, desejando exercitarem-se em várias disciplinas, tais como o desenvolvimento de um coração compassivo, o domínio de fórmulas mágicas, ou o conhecimento mágico perfeito, ou, ao engajarem-se em uma peregrinação pela senda Mahayana, retiram-se para lugares isolados, demônios se aproximarão delas se ainda comerem carne. Se, sentadas em poltronas ou assentos dedicados à prática, serão impedidas de desenvolver siddhis ou alcançar a libertação por causa do consumo de carne.

Até mesmo a visão de formas objetivas faz com que surja o desejo de provar seu sabor, que o Bodhisttava, cheio de piedade e considerando todos os seres como seus filhos, abstenha-se de carne completamente. Reconhecendo que sua boca tem cheiro extremamente fétido, mesmo estando vivo, o Bodhisattva, cuja natureza é piedade, abstém-se totalmente de comer carne.

O comedor de carne dorme mal e acorda perturbado. Ele sonha com acontecimentos terríveis. Ele vive sozinho em uma cabana vazia; seu espírito é perseguido por demônios. Freqüentemente ele é abatido pelo medo, ele treme, sem saber o porquê. Não há regularidade em sua dieta e ele nunca está satisfeito. Em seu comer, ele nunca sabe o que é o gosto próprio dos alimentos, a digestão e a nutrição. Suas vísceras estão entupidas com vermes e outras criaturas impuras por causa da carne. Ele já não se sente tão avesso a doenças. Se eu ensino que consideremos a comida com se estivéssemos comendo nossos próprios filhos ou tomando drogas, como poderia eu permitir que meus discípulos, Mahamati, alimentassem-se de carne e sangue, que são gratificantes aos tolos mas abomináveis aos sábios, que trazem muito mal e afastam muitos méritos; que não são oferecidas aos Rishis e são inadequadas?

Agora, Mahamati, a comida que eu permito que meus discípulos consumam agrada aos sábios e é evitada pelos ignorantes; mantém a maldade afastada e é prescrita pelos antigos Rishis. Consiste de arroz, cevada, trigo, feijões, lentilha, óleos, mel, melado, frutas, etc.; comida preparada com estes ingredientes é a boa comida. Mahamati, pode haver pessoas irracionais no futuro que irão discriminar e estabelecer novas regras de disciplina ética e que, sob a influência da energia de hábito pertencente às raças carnívoras, irão avidamente desejar o gosto da carne: não é para tais pessoas que a alimentação acima foi sugerida. Mahamati, esta é a comida que eu indico para os Bodhisattvas-Mahasattvas, que se dedicaram aos Budas, que germinaram sementes de bondade e têm confiança. Aqueles que são todos da família do Sakyamuni, filhos e filhas de boas famílias, que não têm apego ao corpo, à vida, às propriedades, que não cobiçam prazeres, não são gananciosos, que, sendo compassivos, desejam abarcar a todos os seres vivos e consideram a todos como eles mesmos, que têm afeto pelos seres como se fossem seus filhos.

[...] ... [...]

Há muitos males em comer carne Mahamati, numerosos vícios são gerados nas mentes pervertidas daqueles que estão engajados no consumo de carne. Os ignorantes e de mente fraca não estão cientes de tudo isso, e dos deméritos ligados ao consumo de carne. Saiba, Mahamati, que conhecendo isto, o Bodhisattva, cuja natureza é piedade, abstém-se de carne.

Mahamati, se a carne não é consumida por ninguém por razão alguma, então não haverá mais destruição da vida. Na maioria dos casos o extermínio de seres inocentes é feito por motivos de orgulho e raramente por outras causas. Nada de bom pode ser dito sobre comer a carne de seres sencientes, e alguém contaminado pelo ávido desejo de carne pode chegar ao ponto de comer carne humana! Mahamati, na maioria dos casos, armadilhas e outros dispositivos são colocadas em vários locais por pessoas que perderam a noção de seu apego pelo gosto da carne, e, assim, muitas vítimas inocentes são destruídas por causa do valor atribuído a elas. Há até mesmo aqueles, Mahamati, que são como Rakshasas de coração duro, e que costumam praticar crueldades. Aqueles que, sendo completamente sem compaixão, pensarão nos seres vivos como sendo destinados ao consumo e destruição – nenhuma compaixão surgirá nesses.

Não é verdade que a carne é comida aceitável e permissível para o Sravaka quando a vítima não foi morta por este, quando este não pediu a outros que a matassem e quando não era especialmente destinada a ele. Novamente, Mahamati, haverá pessoas inconseqüentes no futuro que se engajando no caminho ensinadas por mim e conhecidas como filhos de Sakya, pessoas que vestirão o manto Kashaya como um emblema, mas que serão em pensamento terrivelmente afetadas pelo klesha das noções errôneas. Eles falarão sobre suas várias práticas de disciplina, apegados à visão de uma alma pessoal. Sob a influência do desejo pelo sabor da carne criarão argumentos sofistas para defender o consumo de carne. Pensarão que estarão permitindo que eu seja caluniado quando falam de fatos possíveis de interpretar de várias formas. Imaginando que este fato em particular seja possível interpretar, eles concluirão que o Iluminado permite o consumo de carne, e que esta é mencionada entre os alimentos permitidos e que provavelmente o próprio Tathagata o consumiu. Mas, Mahamati, em lugar algum nos sutras o consumo de carne é permitido, nem referido como sendo próprio entre os alimentos sugeridos aos seguidores do Buda.

Se eu tivesse, Mahamati, uma mente que permitisse o consumo de carne, se eu dissesse que ela é própria para os Sravakas, eu não teria proibido o consumo de carne para estes iogues, filhos e filhas da boa linhagem. Desejando compartilhar a idéia de que todos os seres vivos são para eles como um filho único, esses iogues são compassivos, praticam a contemplação e uma vida ascética, eles seguem o caminho do Mahayana. Mahamati, este ensinamento de que não se deve comer carne é aqui dado a todos os filhos e filhas da boa linhagem, sejam eles ascetas das florestas ou iogues que praticam os exercícios, se eles desejam o Dharma e estão trilhando o caminho. Possuindo compaixão, consideram todos os seres como filhos, assim atingem a meta de sua disciplina.

Nos textos canônicos o processo de disciplina é desenvolvido em seqüência ordenada, como uma escada em que se sobe passo a passo, degrau por degrau, cada um unido ao outro de maneira regular e metódica. Há uma proibição quanto à carne encontrada em animais já mortos. No presente sutra qualquer forma de consumo de carne, de qualquer maneira e em qualquer lugar, é incondicionalmente e uma vez por todas, proibida a todos. Assim, Mahamati, eu não permito que ninguém coma carne, nem permitirei. Alimentar-se de carne, Mahamati, é impróprio para monges. Poderá haver alguns, Mahamati, que dirão que o Tathagata consumiu carne, eles o farão achando que isso irá caluniá-lo. Pessoas ignorantes como essas serão amaldiçoadas por seu próprio carma impeditivo, e cairão nas regiões onde longas noites se passam sem ganho nem alegria. Mahamati, os nobres Sravakas não consomem a comida das pessoas comuns, muito menos a comida que vem da carne e do sangue, que é de todo imprópria. Mahamati, o alimento próprio para meus Sravakas, Pratyekabuddhas e Bodhisattvas é o Dharma, e não a carne. O Tathagata é o Dharmakaya, Mahamati; ele se atém ao Dharma como alimento; seu corpo não é um corpo que se alimentou de carne; ele não suporta nenhum alimento cárneo. Ele já se expurgou da energia-hábito de sede e desejo que mantém preso à existência; ele mantém a má energia-hábito das paixões afastada; ele é totalmente emancipado em mente e sabedoria; ele é aquele que tudo sabe, que tudo vê; ele considera a todos os seres com imparcialidade e como seus filhos; ele é um grande coração compassivo. Mahamati, considerando que todos os seres são como um filho único, como posso eu permitir que os Sravakas comam a carne de seus próprios filhos? Muito menos eu o faria! Afirmar que eu permiti que os Sravakas, assim como eu mesmo, tomassem parte no hábito de comer carne, Mahamati, é algo totalmente sem fundamento.

É dito:

1. Licor, carne e cebola devem ser evitados pelos Bodhisattvas-Mahasattvas e por aqueles que são heróis da vitória.
2. A carne não agrada aos sábios: possui um odor fétido e nauseante, causa má reputação, é comida para os carnívoros; Digo-lhe Mahamati, não deve ser consumida.
3. Àqueles que consomem carne há efeitos ruins, àqueles que não a consomem, méritos; Mahamati, você deve saber que os comedores de carne trazem para si mau carma.
4. Que o iogue deixe de comer carne, já que a carne também cresce nele e o ato de comê-la é uma transgressão, já que a carne é produzida por sêmen e sangue e o ato de matar os animais aterroriza os seres.
5. Que o iogue sempre deixe de comer carne, cebola e os vários tipos de licor e alho.
6. Não unte seu corpo com olho de gergelim; não durma em uma cama cheia de espinhos; os seres que vivem em cavidades e fora delas ficarão terrivelmente assustados.
7. Do comer carne surge arrogância, da arrogância surge uma noção errônea, e dela a ganância; por esta razão deixe de comer carne.
8. Da imaginação surge a ganância, e com a ganância a mente fica estupefata; surge apego à estupefação e assim não há libertação do nascimento e morte.
9. Por causa de lucro seres sencientes são destruídos, pela carne é dado dinheiro, isto é uma ação errônea e a ação irá maturar nos infernos.
10. Aquele que come carne, ignorando as palavras do Muni, tem uma mente maldosa; ele é apontado nos ensinamentos do Sakya como o destruidor do bem-estar dos dois mundos.
11. Esses causadores de mal irão para os mais terríveis infernos; comedores de carne serão jogados em horríveis infernos, tais como o Raurava, etc..
12. Não há carne que possa ser considerada pura, seja ela não premeditada, não pedida e não impelida. Portanto, deixe de comer carne.
13. Que o iogue não coma carne, é proibido por mim assim como pelos Budas; Seres que se alimentam uns dos outros renascerão entre os animais carnívoros.
14. Aquele que come carne cheira mal, é desdenhoso e privado de inteligência; ele nascerá novamente e novamente nas famílias de Candala, Pukkasa e Domba.
15. O consumo de carne é rejeitado por mim em sutras como o Hastikakshya, o Mahamegha, o Nirvana, o Anglimalika e este, o Lankavatara.
16. O consumo de carne é condenado pelos Budas, Bodhisattvas e Sravakas; se alguém devora a carne sem sentir-se envergonhado, para sempre esta pessoa será insensata.
17. Aquele que evita a carne, etc., nascerá, por causa disso, na família dos Brâmanes, dos Iogues, dotado com conhecimento e bem-estar.
18. Que a pessoa evite todo tipo de consumo de carne, ignorando o que outros possam dizer; esses teóricos que nasceram em famílias carnívoras não entendem nada.
19. Assim como a ganância é um impedimento para a libertação; da mesma forma, consumir carne, licor, etc., também são impedimentos.
20. Poderá haver uma época em que as pessoas passem a fazer tolas afirmações sobre o consumo de carne, dizendo: “A carne é própria para se comer e permitida pelo Buda”.
21. “Comer carne é uma medicina”; novamente, lembre que é a carne de uma criança; siga as medidas corretas e seja avesso à carne.
22. O consumo de carne é proibido por mim em todo lugar e em todos os tempos para aqueles que estão procurando desenvolver a compaixão; aquele que come carne renascerá como um leão, tigre, lobo, etc.
23. Portanto, não coma carne, tal ato causara terror entre as pessoas, pois impede que surja a verdade da libertação; Deixar de comer carne – este é o ensinamento dos Sábios.

Aqui termina o oitavo capítulo, “Sobre o consumo de carne”, do Sutra Lankavatara, a essência do ensinamento de todos os Budas.

Tradução Aláya Dullius de Souza”


                                                                            http://www.youtube.com/watch?v=h5QSsbKsOUo&feature=share


Texto compartilhado a partir desta fonte, com acesso em 05/11/2015:
http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=view&id=703&Itemid=40

A Sutra Lankavatara em inglês:
 http://www.amazon.com/exec/obidos/ASIN/8121509254/buddhistlinks-20 






Sutra Lankavatara
Capítulo 8 - Deixem de Comer Carne

Naquele momento, Mahamati, o Bodhisattva-Mahasattva[1], perguntou ao Bhagavan em versos e fez um pedido dizendo:

Me diga Bhagavan, Tathagata, Arhat[2], Completamente Iluminado, sobre os méritos de não se comer carne e sobre o vício de se comer carne; assim eu e outros bodhisattvas do presente e do futuro poderemos ensinar o Dharma e fazer os seres abandonarem sua ganância por carne, sob a influência do hábito da existência carnívora, fortemente apegada a alimentos que contenham carne. Tais comedores de carne, abandonando seu desejo por esse sabor, buscarão o Dharma[3] por alimento e obterão júbilo, considerando todos os seres com amor, como se fossem seus próprios filhos, se alegrarão sentindo grande compaixão por eles. Sentindo tal grande compaixão, eles se disciplinarão até atingir os estágios do Bodhisattva e rapidamente despertarão para a suprema iluminação; ou permanecendo por um tempo no estágio do Sravaka e Pratyekabuddha[4], eles finalmente atingirão o mais alto estagio do Tathagata.

Bhagavan, mesmo aqueles filósofos que mantém doutrinas errôneas e são adeptos de visões mundanas como o dualismo do ser ou não-ser, do niilismo e eternalismo, proibirão o ato de comer carne e eles mesmos hão de se abster de comê-la. Como, ó Guia do Mundo, tu que promoves o gosto pela piedade e é Completamente Iluminado; não proibiria em seus ensinos o ato de comer carne, não apenas para si, mas também para todos? Claro, deixe o Bhagavan, que no coração está cheio de piedade pelo mundo, que considera todos os seres como seus filhos e que possui a grande compaixão em conjunto com sua compreensão, nos ensine sobre o vício de comer carne e o mérito de não comer para que assim eu e outros Bodhisattvas-Mahasattvas ensinemos o Dharma.

Disse o Bhagavan:

Então, Mahamati, ouça atentamente e reflita bem dentro de si; Eu te direi.

Certamente, Bhagavan - disse Mahamati, o Bodhisattva-Mahasattva, e deu ouvidos ao Bhagavan.

O Bhagavan disse assim:
Por inumeráveis razões, Mahamati, o bodhisattva, cuja natureza é a compaixão, não deve comer carne. Eu as explicarei. Mahamati, nesse longo curso de renascimentos, não há nenhum ser vivo que, tendo assumido uma forma de ser vivo, não possua mãe, pai, irmão ou irmã, filho e filha, ou um e outro e vários níveis de parentesco, assumindo uma ou outra forma de vida, seja como uma fera, animal doméstico, pássaro ou um nascido de útero, ou com qualquer outro tipo de relação contigo. Sendo assim, como um Bodhisattva-Mahasattva que procura aproximar-se de todos os seres como se fossem ele mesmo e praticar a verdade do Buda, pode comer carne de seres vivos que possuem a mesma natureza que ele próprio? Mahamati, até mesmo um Raksasa[5] que ouça o discurso do Tathagata sobre a mais alta essência do Dharma, se ele atingir a percepção de proteger o Budismo e sentir piedade, abstém-se de comer carne; quanto mais devem fazer aqueles que amam o Dharma! Então, Mahamati, onde quer que haja o desenvolvimento de seres, que as pessoas possam nutrir o pensamento do parentesco com eles, e pensando que todos os seres devem ser amados como se fossem filhos únicos, que assim eles se abstenham de comer carne. Então que os Bodhisattvas, cuja natureza é a compaixão, sejam avessos a comer carne. A carne de um cão, burro, búfalo, cavalo, touro, de homem ou de qualquer outro ser, Mahamati, não é para ser comida por pessoas, ela é vendida na beira das estradas apenas pelo amor pelo dinheiro; portanto, Mahamati, o Bodhisattva não deve comer carne.

Por amor à pureza, Mahamati, o Bodhisattva deve abster-se de comer carne que é fruto de sêmen e sangue. Por temer causar terror aos seres vivos, Mahamati, que o Bodhisattva que se disciplina buscando a compaixão, abstenha-se de comer carne. Para ilustrar, Mahamati: Quando um cão vê, mesmo à distância, um caçador, um sem casta, um pescador, etc., que deseja tal alimentação com carne, ele é tomado pelo terror, pensando, "Eles são mercadores da morte, eles me matarão!" Da mesma forma, Mahamati, mesmo aqueles pequeninos animais que habitam no ar, na terra e na água, vendo comedores de carne à distância, ao percebê-los, através de seus aguçados sentidos, sentem o cheiro de um demônio e fugirão de tais pessoas tão rápido quanto puderem; pois essas pessoas são para eles ameaça de morte. Por tal razão, Mahamati, que o Bodhisattva, que busca disciplinar-se, permanecendo na grande compaixão, evitando aterrorizar os seres, abstenha-se de comer carne. A comida dos sábios, Mahamati, é aquela comida pelos Rishis  e não consiste de carne e sangue. Assim, Mahamati, que o Bodhisattva se abstenha de comer carne.
De modo a preservar as mentes de todos, Mahamati, que o Bodhisattva, cuja natureza é santa e cujo anseio é evitar cometer faltas no ensino do Buda, abstenha-se de comer carne. Por exemplo, Mahamati, há alguns no mundo que difamam o ensino do Buda; eles diriam, "Por que razão tais monges que dizem empenhar-se em puras práticas, rejeitam as oferendas dos seres celestiais, mas como animais carnívoros que preenchem seus estômagos com carnes, perambulam pelo mundo assustando os seres, desconsiderando como deve ser a vida de um monge e destruindo o voto de um brâmane[6]? Não há Dharma nem disciplina neles." Há muitos assim de mente hostil que falam inverdades do ensino do Buda. Por tal razão, Mahamati, de forma a proteger a mente de todas as pessoas, que o Bodhisattva, cuja natureza é plena em piedade e cujo anseio é evitar cometer faltas no ensino do Buda, não deve comer carne.

Mahamati, um cadáver possui um cheiro ofensivo, que é desagradável; assim, que o Bodhisattva se abstenha de comer carne. Mahamati, quando carne é queimada, não importa se é de uma pessoa ou de qualquer outra criatura, não há diferença no odor. Quando carne de qualquer tipo é queimada, o cheiro exalado é igualmente nocivo. Assim, Mahamati, que o Bodhisattva, cujo anseio é a pureza em sua disciplina, abstenha-se de carne.

Mahamati, quando filhos e filhas de boas famílias, desejando exercitar a si próprios em várias disciplinas como alcançar um coração compassivo, praticar mantras, atingir o conhecimento superior, entender o Mahayana[7], retiram-se em um cemitério, ou adentram à floresta, demônios se juntam e frequentemente o perturbam. Quando eles tentam sentar-se em meditação ou para algum desses exercícios, eles são impedidos, por terem se alimentado de carne, de obter sucesso ou de atingir a liberação. Mahamati, percebendo que isso é um obstáculo para o sucesso em todas as práticas budistas, que o Bodhisattva, que anseia o benefício próprio e também o de outros, completamente se abstenha de comer carne.

Tal como a visão das formas objetivas faz surgir o desejo por sentir um delicioso sabor, que o Bodhisattva, cuja natureza é a piedade e que considera a todos os seres como se fossem um filho único, abstenha-se de comer carne. Reconhecendo que sua boca, mesmo em vida, emitirá um odor pútrido, que o Bodhisattva, cuja natureza é a piedade, totalmente se abstenha de comer carne.

O comedor de carne dorme mal e acorda perturbado. Ele tem pesadelos horríveis. Ele é sempre abandonado, vive uma vida de solidão e seu espírito é atormentado por demônios. Frequentemente ele é tomado pelo medo, ele treme sem saber a razão, sua alimentação é irregular e ele nunca está satisfeito. Ele tem o paladar prejudicado, assim como seu processo digestório e também sua nutrição. Ele considera normal a sensação de estar doente. Se eu ensino que se deve considerar a comida como se fosse carne de seu próprio e único filho[8] ou como tomar um remédio, como eu poderia permitir aos meus discípulos, Mahamati, que comessem comidas que consistem de carne e sangue, que são gratificantes ao estúpido, mas são rejeitadas pelo sábio, que produzem toda espécie de mal e mantém afastados muitos méritos, que não foi oferecia aos Rishis e que é completamente inadequada?


Agora, Mahamati, a comida que eu permiti que meus discípulos tomassem, é aquela gratificante a todas as pessoas sábias, mas é evitada pelo tolo; ela produz tantos méritos, mantém afastado todo o mal e foi prescrita pelos antigos Rishis. É composta de arroz, cevada, trigo, feijão, lentilhas, manteiga, azeite, mel, melado, cana de açúcar, açúcar mascavo, etc. Os alimentos preparados com tais ingredientes são apropriados. Mahamati, haverá muitas pessoas irracionais no futuro que vão inventar e estabelecer novas regras de disciplina moral e que, sob a influência desse mau hábito típico de raças carnívoras, vão sentir a ganância pelo sabor da carne: não é para tais pessoas que essa minha alimentação é prescrita. Mahamati, essa é a alimentação que eu incito aos Bodhisattvas-Mahasattvas que têm feito oferendas a muitos Budas no passado, que plantaram raízes de bondade, que possuem confiança, desprovidos de discriminação, são todos homens e mulheres pertencentes à família Sakya[9], que são filhos e filhas de boa família, que não possuem mais apego ao corpo, à vida ou às posses, que não cobiçam iguarias, de nenhuma forma são gananciosos, que se tornando compassivos, tendem a abraçar todos os seres como se fossem ele mesmo e que consideram todos os seres com tal afeição como se fossem seu único filho.

Há muito tempo no passado, Mahamati, viveu um rei chamado Simhasaudasa. Ele era apreciava muitíssimo comer carne, sua avidez por comê-la estimulou-o tanto que ele chegou ao auge dessa barbárie, no ponto de comer carne humana. Em consequência disso, ele tornou-se sem amigos verdadeiros, não ouvia mais seus conselheiros, compatriotas, parentes, nem falava mais aos cidadãos e habitantes daquele país. Ao fim, ele acabou renunciando ao trono e aos seus domínios, sofrendo grandes calamidades devido a sua paixão por comer carne.

Mahamati, mesmo o deus Indra que possui a soberania sobre os deuses, numa existência anterior, teve de nascer na forma de um gavião devido à força do hábito de comer carne; ele então perseguiu Visvakarma, que naquela ocasião havia se manifestado na forma de uma pomba, colocando-se assim em seu lugar na escala alimentar. O Rei Sivi, sentindo profunda piedade pelo sacrifício da inocente pomba para o gavião, sentiu uma dor profunda. Mesmo um deus que tornou-se Indra o Poderoso, depois de atravessar vários nascimentos, Mahamati, está sujeito a trazer o infortúnio a si próprio e aos outros; quanto mais aqueles que não são Indra!

Mahamati, houve outro rei que foi levado por seu cavalo para dentro de uma floresta. Depois de perambular por lá, ele, não temendo por sua própria vida, acabou por cometer um ato reprovável com uma leoa e gerou filhos nela. Devido a esse fato, seus descendentes da união com a leoa eram chamados de Pegadas-Visíveis[10]. Devido aos hábito que tinham no passado, quando seu alimento era carne, eles continuaram a comer carne mesmo depois de se tornarem reis. E Mahamati, naquela mesma vida eles abandonaram o reino e habitaram um aldeia chamada Kutiraka e por causa do seu excessivo apego e devoção à alimentação de carne, eles deram nascimento a Dakas e Dakinis[11] terríveis e comedores de carne humana. Numa vida de renascimentos, Mahamati, aqueles que caem dentro de úteros de tais descontroladas criaturas comedoras de carne como leões, panteras, tigres, lobos, hienas, chacais, gatos do mato, corujas, etc., cairão dentro de úteros de seres ainda mais ambiciosos por devorar carne até tornarem-se terríveis Raksasas. Descendo cada vez mais, será praticamente impossível de obter nascimento num útero humano; quão mais difícil ainda será atingir o nirvana!

Dessa forma, Mahamati, são os malefícios de se comer carne; quão mais numerosas características maléficas nascem nas mentes perversas daqueles devotados a esse ato. Mahamati, os ignorantes e simplórios não estão atentos a estes e tantos outros malefícios e nem aos méritos de não se comer carne. Eu te digo Mahamati, que sendo capaz de ver tais malefícios e méritos, que o Bodhisattva, cuja natureza é a piedade, não deve comer carne.

Mahamati, na maioria dos casos, chacinas são cometidas por comedores de carne. Se ninguém comesse carne, não haveria destruidores da vida, comer carne é exatamente o mesmo que matar. Aqueles no mundo, que se viciam no sabor da carne, poderiam comer até mesmo carne humana e não notar a diferença, isso sem falar da carne de pássaros, animais selvagens e assim por diante. Mahamati, por muitas vezes, redes e armadilhas são preparadas em vários lugares por pessoas que perderam seu bom senso devido a seu apetite por saborear carne e desse modo, tantas vítimas inocentes são destruídas, pagando o preço desse desejo, usando armadilhas para pássaros ou redes para pegar peixes ou outros seres que estão se movendo pelo ar, na terra e na água. Há até mesmo, Mahamati, aqueles que são como Raksasas de coração duro e acostumados a praticar crueldades, que sendo tão vazios de compaixão, por diversas vezes procuram seres para se alimentar e destruí-los. Não há nenhuma compaixão desperta neles.

Não é verdade, Mahamati, que carne seja uma comida apropriada e permitida aos monges, quando a vítima não tenha sido assassinada por ele mesmo, mesmo que ele não tenha pedido para ser morta ou que não tenha sido preparada exclusivamente para ele. Novamente, Mahamati, pode haver pessoas loucas no futuro, que vivam a vida de monges de acordo com meus ensinos, sejam reconhecidos como filhos de Sakya e portem o manto Kasaya[12] ao redor de seu corpo, mas que sejam, em pensamentos, malignamente afetados por raciocínios errôneos. Eles poderão falar de vários aspectos em suas vidas morais, ou estar apegados à ideia da existência de uma alma. Sob a influência do desejo pelo sabor da carne eles conduzirão, de várias formas, argumentos distorcidos para defender a alimentação com carne. Eles vão achar que me caluniam ao falar e explicar ideias que podem gerar diversas interpretações. Imaginando que tais ideias permitem uma interpretação desse tipo, concluem que o Bhagavan, de alguma maneira, permite que se coma carne e que isso é mencionado dentre os alimentos permitidos e que provavelmente o próprio Tathagata tenha tomado parte nisso. Mas, Mahamati, não há nenhum lugar nos sutras onde a alimentação de carne seja permitida como sendo algo aprazível, nem é referia como alimento apropriado ou prescrito para os seguidores do Buda.

Se, contudo, Mahamati, eu tivesse intenção de permitir que se comesse carne, ou eu tivesse dito que era apropriado para os Sravakas, eu não teria proibido. Eu não teria proibido a doentia alimentação com carne para tais yogues, filhos e filhas de boas famílias, que, nutrindo a ideia de que todos os seres são como um filho, possuem compaixão, praticam a contemplação, disciplina e estão no caminho do Mahayana. E Mahamati, a proibição de se comer qualquer tipo de carne está aqui dada a todos os filhos e filhas de boas famílias, quer sejam ascetas das catacumbas ou das florestas, ou yogues praticando seus exercícios, se eles anseiam o Dharma e estão no caminho, qualquer que seja o veículo, estando de posse da compaixão, concebendo a ideia de auxiliar a todos os seres como se fossem seu próprio e único filho, de maneira que atinjam o objetivo final de seus esforços.


Nos sutras se distribui os diferentes processos de disciplina de um modo sequencial, como uma escada que se sobe degrau por degrau e um alcança o seguinte de modo metódico e regular. Sendo assim, a questão da carne não fica de fora de tais circunstâncias. Além disso, consta nos dez preceitos a proibição sobre a carne de animais encontrados já mortos. Mas neste sutra, todo tipo de consumo de alimentos com carne, de qualquer forma, de qualquer maneira e em qualquer lugar, é incondicionalmente e de uma vez por todas, proibido para todos. Assim, Mahamati, eu não permiti que ninguém comesse carne, não permito e jamais permitirei. Comer carne, eu te digo Mahamati, não é apropriado para monges. Pode haver alguns, Mahamati, que digam que o Tathagata comeu carne, pensando em difamá-lo. Tais pessoas desprovidas de bom senso, seguirão o caminho maléfico de seus próprios impedimentos kármicos e cairão em mundos terríveis onde longas noites se passam sem que se tenha nenhuma alegria. Mahamati, os nobres Sravakas não comem sequer alimentos que são normais às pessoas comuns, quanto menos se alimentam de carne e sangue, que são totalmente impróprios. Mahamati, o alimento de meus Sravakas, Pratyekabuddhas e Bodhisattvas é o Dharma e não carne; o que dizer então do alimento do Tathagata! O Tathagata é o Dharmakaya, Mahamati. Ele habita no Dharma que você toma como alimento; ele não é um corpo que se alimenta de carne, ele não se encontra em nenhum pedaço de carne. Ele extinguiu os hábitos que geram a sede e o desejo que sustenta toda a existência; ele mantém longe a força do hábito das paixões malignas, ele completamente emancipou sua mente e conhecimento; ele é Onisciente, ele vê tudo, ele considera todos os seres como se fossem seu filho único, ele possui um coração da grande compaixão. Mahamati, considerando os seres como um próprio e único filho, como eu sendo assim, permitiria que os Sravakas comessem a carne de seus filhos? Muito menos eu comeria! Afirmar que é permitido aos Sravakas ou a mim mesmo, tomar parte desse tipo de alimentação, Mahamati, não tem o menor fundamento.

Então é dito que:

Licor, carne e cebolas[13] devem ser evitadas, Mahamati, pelos Bodhisattvas-Mahasattvas e por todos aqueles que são heróis vitoriosos.
Carne não é aceitável pelo sábio; possui um odor nauseante, causa má reputação, é comida de carnívoros, sou eu quem diz isso, Mahamati, não deve ser comida.
Para aqueles que comem carne há resultados danosos, para aqueles que não comem há méritos; Mahamati, você deve tomar conhecimento de que os comedores de carne atraem tais efeitos prejudiciais a si próprios.
Que o yogue se abstenha de comer carne, pois poderia ter nascido dele mesmo, envolve transgressão, sendo feita de sêmen e sangue além de causar o terror de seres vivos.
Que o yogue se abstenha de carne, cebolas, licores e alhos.
Que não unte seu corpo com óleo de gergelim, nem durma numa cama com espinhos, pois os seres que habitam cavidades ou também os que não habitam ficarão terrivelmente assustados.
Do ato de comer carne nasce a arrogância, da arrogância vem pensamentos errôneos e de tais pensamentos nasce a ganância. Por essa razão abstenha-se de comer carne.
Dos pensamentos errôneos nasce a ganância e da ganância a mente torna-se confusa. Surge o apego a essa sensação e não se liberta do ciclo de nascimentos.
Pelo desejo de lucro os seres são destruídos, para se obter carne gasta-se dinheiro, ambas ações são malignas e aqueles que realizam tais atos hão de maturar nos infernos mais terríveis.
Aquele que come carne, destruindo as palavras do Muni, é um mal-intencionado; ele é apontado nos ensinamentos do Sakya como o destruidor da alegria neste mundo e no próximo.
Aqueles que realizam as más ações vão para o mais horrível inferno; comedores de carne vão habitar infernos terríveis.
Não há carne considerada pura de três formas; mesmo a não premeditada, não solicitada ou não desejada. Por isso, abstenha-se de comer carne.
Que o yogue não coma carne, ela é proibida por mim e por todos os Budas. Aqueles seres que se alimentam de outros seres renascerão como animais carnívoros.
O comedor de carne é malcheiroso, desrespeitoso e nasce privado de inteligência. Ele nascerá constantemente numa família de açougueiros sem casta.
Comer carne é proibido por mim em sutras como o Hastikakshya, o Mahamegha, o Nirvana, o Anglimalika e o Lankavatara.
Comer carne é condenado pelos Budas, Bodhisattvas e Sravakas. Se alguém come carne e não se envergonha disso, tal pessoa é desprovida de inteligência.
Aquele que evita carne renascerá, devido a esse fato, numa família de brâmanes e yogues, dotado de conhecimento e opulência.
Abstenham-se de toda carne, não importa o que digam sobre saber, ouvir ou suspeitar que ela foi morta para você ou não. Esses teóricos nasceram de famílias de carnívoros e não fazem a menor ideia do que estão falando.
A ganância é um impedimento para a libertação da mesma forma que comer carne e beber licores.
Pode haver um dia em que venham pessoas que façam afirmações estúpidas sobre comer carne como, "Carne é próprio para o consumo, não tem problema, é permitida pelo Buda."
Ou ainda, "comer carne é para sua saúde", novamente eu digo, é como se fosse a carne de um filho. Siga as orientações corretas e seja avesso à carne e então que o yogue siga seu caminho.
Comer carne é proibido por mim em todo lugar e em todo tempo para aqueles que desejam permanecer na compaixão. Quem come carne nascerá no mesmo lugar que o leão, o tigre ou o lobo.
Assim, não coma carne, pois causará escândalo entre as pessoas, impede a compreensão da verdade da libertação. Não coma carne, pois essa é característica dos sábios.
. . .
[1] Bodhi (iluminação) e Sattva (ser), o indivíduo que desperta a aspiração pela iluminação com o intuito de oferecer esse benefício a todos os seres vivos. Maha (grande) sattva é o Bodhisattva num estágio superior.
[2] Títulos honoríficos dos budas.
[3] Ensino.
[4] Lit. Ouvintes e Budas solitários. Os discípulos do ensinamento do Buda e aqueles que praticam sozinhos, sem um mestre.
[5] Tipo de demônio.
[6] Membro da casta sacerdotal.
[7] Grande Veículo, o conhecimento próprio dos Budas.
[8] Veja no Puttamansa Sutta (http://acessoaoinsight.net/sutta/SNXII.63.php)
[9] Ou seja, à família Real, um nobre.
[10] Ou "Pés-Marcados", talvez no sentido de que os resultados das ações eram vistos, mesmo que não tivessem sido eles os agentes iniciais. Ou seja, não se vê os pés, mas se vê as marcas.
[11] Demônios masculinos e femininos comedores de carne humana.
[12] Vestes monásticas.
[13] De fato alguns textos proíbem o uso de determinadas ervas ou temperos de cheiro forte. Alguns deles, culturalmente, eram considerados como sexualmente excitantes, outros, talvez uma consideração sobre não desenvolver mau-hálito ou suor com cheiro forte.”

Fonte a partir da qual compartilhei o texto sagrado, com acesso em 05/11/2015: