Ao visitar uma livraria de revistas e livros usados, um de meus hobbies preferidos, no momento em que examinava algumas revistas antigas chamou minha atenção uma revista com o título “Santa Aliança do Terceiro Milênio”, publicada no ano de 1958. Trata-se de uma revista bem simples, de tamanho igual ao da conhecida revista Seleções (Reader's Digest), porém com uma quantidade de páginas bem menor, toda em preto e branco e contendo alguns textos, informações, ilustrações e fotografias orientados para temas do espiritismo cristão codificado por Allan Kardec. Na capa, além do título e da frase “Prepara o Espiritismo uma nova civilização”, aparece impressa a fotografia de busto de um jovem senhor vestindo paletó, camisa social e gravata e identificado como Dr. Eurípedes de Castro. Mais precisamente entre as páginas 11 e 13, consta um texto que me interessou bastante e cujo cativante título “O Vegetarianismo e a lei do amor”, já deixa transparecer o iluminado e compassivo conteúdo. Nas breves, porém profundas e elevadas considerações que teceu o autor, o vegetarianismo é apresentado em seu aspecto mais belo e enobrecedor, a saber: o amor pelos animais. Ao ler o amoroso texto, não pude deixar de me emocionar com palavras, frases, argumentos que hoje utilizamos ao falar e escrever sobre o tema que se tornou uma das mais gratas missões de nossa existência, ou seja, a de promover a nutritiva, saudável, saborosa e inocente alimentação vegetariana, bem como os direitos animais e sua libertação do jugo de sofrimento, dor e morte lamentavelmente a eles imposto pelo homem. Assim, ao transcrever integramente o texto, o faço preservando as palavras e a forma como o autor, cujo nome não é indicado na publicação, preferiu fazer e que inclui algumas palavras e frases em caixa alta, recurso de que se valeu o autor para destacar aspectos de seu iluminado pensamento. Desta forma, com imensa alegria compartilho, com os(as) queridos(as) leitores(as) deste blog, o texto “O vegetarianismo e a lei do amor”, rogando ao Ser Supremo, bondoso Pai de todos os seres, que nos conduza à piedosas reflexões e nos leve a tratar com mais amor e compaixão as inocentes e indefesas criaturas que Ele trouxe à luz da existência.
O vegetarianismo é muitas vezes adotado por questões de saúde, como um regime alimentar mais saudável, higiênico e substancioso. Porém, o aspecto mais importante do vegetarianismo é ser ele um MODO DE PENSAR E DE SENTIR, visto estar, profundamente ligado à ideia da Fraternidade Universal.
Todos os reinos da natureza – mineral, vegetal, animal e humano – são partes de um Todo. A ciência e algumas religiões aceitam e explicam a Lei da Evolução, a qual se processa através do desenvolvimento da consciência. Sendo o homem o ser dotado de maior consciência, é por isso mesmo o de maior responsabilidade no mundo.
O homem, por seu contínuo pensar, há de se aproximar cada vez mais das verdades proclamadas em todos os tempos pelos sábios, filósofos, santos e profetas. A base dessas verdades é que a LEI DO AMOR é a única lei que conduzirá o homem a um estágio de real grandeza espiritual! Sem o amor, conheceremos grandes progressos materiais, mas não alcançaremos a verdadeira civilização!
Ora, a LEI DO AMOR não pode admitir a inútil e cruel matança de animais como a que ainda se executa, em larga escala, em pleno século XX!
Dizemos inútil e cruel porque se é com fins de alimentação, milhões de vegetarianos em todo o mundo provam que vivem em iguais ou melhores condições físicas e intelectuais que os não-vegetarianos (vejam-se os exemplos de Bernard Shaw, Gandhi, o atleta olímpico Paavo Nurmi, os campeões Carlos Mann, Koleimann e outros; vejam-se povos, como os Hunza, célebres por seu vigor e resistência). Se é com fins esportivos, nada pode ser mais vexatório, para o nosso orgulho de civilizados, do que ver homens e mulheres divertirem-se matando animais fria e calculadamente! (Que sentimentos atribuir àqueles que fazem tiro ao alvo em pombos ou que vão às selvas perseguir animais com o único e exclusivo propósito de os destruir? Que pensar daqueles que deliram com o espetáculo sanguinário das touradas e o das brigas de galos e cães?!). Se é com fins ornamentais, como acontece com o uso de casacos de peles e couro, penas e aves para chapéu, mais se evidência a inutilidade da matança porque inúmeras são as pessoas que vivem bem, com outros agasalhos e enfeites que não exige destruição de vidas.
Poucas pessoas comeriam carne se tivessem elas próprias que matar os animais, ou simplesmente, assistir à carnificina nos matadouros.
Compreende-se que no passado, quando o cultivo da terra era reduzido, difícil em muitas regiões, desconhecidos os grandes recursos agrícolas de hoje, ignorado o valor alimentício da maior parte das frutas, cereais e legumes, a caça fosse a maior abastecedora das mesas. Hoje, porém, enriquecidos de tão grandes progressos e conhecimentos como explicar que ainda não tenhamos vencido a herança pouco humana de comer carne?!
Podemos cultivar o sentimento da FRATERNIDADE UNIVERSAL aprovando, apoiando, participando da crueldade, indiferença e egoísmo com que se sacrificam os animais?
Não é uma incoerência festejaram-se as grandes datas que reverenciam JESUS – Dia de Graças, de Natal, de Páscoa, 1º de Ano – sacrificando para a mesa desses dias, vidas e vidas de pequenos animais? Pode agradar ao Senhor que foi todo Amor e Misericórdia, a destruição de seres que já têm sensibilidade e conhecem o sofrimento?
O vegetarianismo se impõe por questões de saúde, por razões científicas e sobretudo, porque corresponde a uma atitude de acatamento à LEI DO AMOR.
Fonte:
Revista Santa Aliança do Terceiro Milênio, nº 22, ano 3º, 1958, p. 11 a 13, São Paulo, SP
"Misericórdia quero, e não sacrifícios" (Jesus de Nazaré)