Tempo virá em que os seres humanos se contentarão com uma alimentação vegetariana e julgarão a matança de um animal inocente como hoje se julga o assassínio de um homem.” Leonardo da Vinci

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Budismo e Vegetarianismo: A relevância da dieta alimentar nas Escrituras Sagradas do Budismo




Emmo. Revmo. Mestre do Dharma André Otávio Assis Muniz (Hôraku Ajyari)

Resumo

O presente artigo tem como objetivo recolher e expor as teorias contidas nas escrituras budistas sobre o consumo de carne e, dessa forma, dar acesso ao leitor às fontes budistas que tratam sobre o tema, sem as interferências inevitáveis do sectarismo religioso e da visão particular de cada denominação budista.

Tencionamos demonstrar a importância dada ao regime alimentar vegetariano em uma das maiores tradições religiosas do mundo.

O tema é bastante controverso uma vez que o Budismo atualmente é um fenômeno religioso multifacetado sem nenhuma centralização ou autoridade legislativa “universal”. Cada denominação admite um dado conjunto de ensinamentos e, frequentemente, há cisões internas que as subdividem, tornando ainda mais complexa a idéia de um ensinamento válido universalmente.

Em geral, a discussão desse tópico suscita acaloradas discussões entre pró-vegetarianismo e pró-carnivorismo, cada lado apresentando os argumentos que acham cabíveis para a defesa de seu próprio ponto de vista.

Introdução

O Budismo, encarado como fenômeno histórico, nasce no contexto da Índia Védica do século VI a.E.C. (aproximadamente). Falamos aqui em “cultura védica” em sentido amplo, uma vez que mesmo as escolas de filosofia (darsanas) ditas “não védicas” se abeberam da mitologia e da terminologia técnica própria dos Vedas e de seus comentários.

Nenhum fenômeno histórico pode ser visto como estanque ou isolado do meio em que surge. O Budismo, igualmente, não pode ser analisado, em nenhum de seus aspectos, como um fenômeno desconectado das diversas influências da época, nem da mentalidade Indo-Ariana como um todo. A cultura Indo-Ariana é fruto das imigrações de populações (chamadas “arianas”, do sânscrito “arya”, ou seja, “nobre”, “excelente”, “exímio”), vindas provavelmente do Cáucaso, para o Vale do Indo que, desde o terceiro milênio a.E.C., tinha uma civilização urbana denominada pelos arqueólogos de “Cultura de Harapa” e “Mohenjo Daro”. A população originária do Vale do Indo, os drávidas, foram submetidos pelos imigrantes que trouxeram suas próprias formas de culto, sua própria tecnologia bélica, agrícola e pastoril e o gérmen de uma filosofia que se desenvolveria, enormemente, nos milênios por vir.

Por volta do ano 1000 a.E.C. se observa o deslocamento dos imigrantes arianos para a região do Vale do Ganges e uma certa fusão entre elementos culturais originalmente arianos e locais assim como uma certa miscigenação racial. O sistema de “varnas” (castas) já está estabelecido, mas não ainda baseado no nascimento e sim na propensão natural dos indivíduos. A ordem da sociedade é estabelecida entre os brâmanes (sacerdotes), os ksatriyas (guerreiros e governantes) e os vaisyas (comerciantes, lavradores e artífices).

Abaixo dessas divisões estão os “avarna” (sem casta), ou seja, aqueles que não se enquadram em nenhuma das funções estabelecidas para o funcionamento da sociedade. Os “avarna” se tornam os “sudras”, ou seja, aqueles que fazem os trabalhos que nenhuma outra casta pode ou deve executar. Além dessa divisão existe também a idéia de “ativarna”, ou seja, aquele que está acima de todas as castas, que seriam os monges renunciantes (bhikshu/sannyasin/sadhu/sramana) e que estariam livres de todos os deveres de casta e de todos os vínculos com a ordem social por dedicarem-se exclusivamente à busca pela libertação (moksha). Por um lado, o “ativarna” não tem casta por ser superior às funções executadas em todas as castas, por outro, o “avarna” não a tem por ser inferior a todas elas e não se encaixar adequadamente em nenhuma delas.

Com o decorrer do tempo, o sistema de castas sofreu modificações substanciais. O estabelecimento de reinos e pequenos estados em todo o território indiano, com as relações de poder que isso implica, deu ensejo ao estabelecimento de “castas hereditárias”, ou seja, pertencia a uma determinada casta que nascesse em uma família a ela pertencente. Algo análogo às modificações ocorridas no conceito de “nobreza” no Ocidente[1].

Essas modificações no sistema de castas e as conseqüentes injustiças a que elas deram ensejo provocaram uma reação bastante vívida que pode ser vista através de toda a literatura upanisadica e do próprio Budismo. Nem as Upanisads, nem o Budismo eram contrários à divisão da sociedade em castas em si. O Lalita-Vistara Sutra traz em seu capítulo 3, linha 146:

O Bodhisattva respeita as distinções entre as castas. Ele não surge numa casta inferior; Ele surge apenas em uma das castas mais altas, a casta dos Brahmana ou a dos Ksatriya”.

A interpretação de tal verso é clara. O Bodhisattva é sempre inclinado às atividades sagradas do brâmane (estudo, ensino e execução dos ritos), ou às atividades de manutenção da ordem (guerra, governo e lei) dentro de uma sociedade como ksatriya . Fica claro também a ausência da palavra ‘família’ no verso. Ele não diz “nunca surge em uma família de casta inferior”, mas sim“ELE surge apenas em uma das castas mais altas”.

No Satasahasrika-Prajnaparamita, Capítulo X, podemos ler:

Ele nunca surge nas castas baixas: isto é uma marca distintiva do Bodhisattva”.

O Bodhisattva surge em uma alta casta, a casta dos Ksatriya ou a casta dos Brahmana; ele surge em uma verdadeira linhagem à qual pertenceram os Bodhisattvas precedentes”.

Note-se que ele não remete à hereditariedade, mas sim a uma “verdadeira linhagem à qual pertenceram os Bodhisattvas precedentes”, ou seja, a uma conexão espiritual com as atividades dos Bodhisattvas precedentes. Eram contrários sim ao sistema de castas hereditárias, uma “inovação” dentro da mentalidade Tradicional Indo-Ariana. Sendo assim, a quebra da tradição não veio com o Budismo ou com as Upanisads, mas sim com a decadência da sociedade védica .

No Dhammapada, Capítulo XXVI, verso 393 pode-se ler:

Não pelos cabelos trançados, não pela família e nem pelo nascimento alguém se torna um brâmane; Naquele em que há verdade e retidão, ele é um abençoado, ele é um brâmane.”

As palavras “não pela família e nem pelo nascimento”, tornam difícil qualquer contradição. O respeito pela posição do brâmane é evidente, mas não se obtém essa posição pela simples hereditariedade. Outras “inovações” provenientes dos costumes locais drávidas também se insinuaram. O sacrifício de animais, o consumo de carne e seus derivados estavam entre elas. Mais à frente, daremos elementos documentais de tal afirmação. O Budismo não foi o único a surgir dentro do contexto de “revitalização das tradições”. Os movimentos liderados por sramanas (monges renunciantes) com o objetivo de revitalizar o espírito dos Vedas abandonando o formalismo vazio teve muitas outras formas.

Alguns teóricos tendem a ver o Budismo como uma “ruptura” com a mentalidade védica, mas isso é desmentido pelas próprias escrituras budistas. Estudiosos como Ananda Kentish Coomaraswamy, já notaram que o Budismo original era muito mais uma tentativa de viver adequadamente o espírito védico, sem os acréscimos espúrios e o formalismo vazio dos ritos com objetivos puramente mundanos, do que a ideia de se fazer algo novo e desconectado da Tradição.

Tendo em vista tal panorama, seria imprudente afirmar alguma coisa sobre os ensinamentos budistas originais sem uma cuidadosa análise de seu pano de fundo e de suas origens pré-budistas. No presente artigo, discutiremos sobre a proibição do consumo de carne dentro da mentalidade védica e, mais especificamente, dentro do Budismo, utilizando como fontes primárias o estudo dos costumes da Índia pré-budista e as escrituras tradicionais budistas que versam sobre o tema.

I. Vegetarianismo Védico

A cultura védica, desenvolveu ao longo de milênios, um especial senso de proteção em relação aos animais, especialmente à vaca.

Existem muitas razões para tal fato. Os arianos imigrantes, um povo essencialmente pastoril, viam na posse da vaca um sinal de riqueza e continuidade. A vaca fornecia o leite e ,com este, eram produzidos o queijo, a manteiga, o coalho, o yogurte e outros alimentos. O estrume da vaca adubava o solo e é um excelente combustível para se acender o fogo dos sacrifícios aos deuses e para a preparação dos alimentos . A vaca dava cria e outras vacas serviriam como ‘mães’ do povo, confortando-os com alimentos e fertilizando o solo para que dele fossem tirados os vegetais. Em outras palavras, como uma mãe que sustenta e auxilia seus filhos enquanto está viva, a vaca daria muito mais sustento e auxílio viva do que morta.

Como se não bastassem essas virtudes, a vaca ainda ajudava nos trabalhos do campo, puxando o arado e emprestando sua força para os trabalhos pesados. O temperamento dócil da vaca dava um exemplo de paciência, perseverança e benevolência. A vaca era a própria personificação de “Ahimsa” (não agressão). Tudo isso, ao longo do tempo, estabeleceu uma relação de afeto verdadeiro que se traduziu em muitos mitos e louvores às virtudes da vaca.

Muitos deuses ganharam a vaca como companheira. Krisna, por exemplo, é descrito como um príncipe-pastor, sempre cercado de vaqueirinhas (gopi). Radha, sua esposa, é a principal delas. Siva tem como montaria a Nandi, um boi. A própria Terra é descrita como Prthvi, uma vaca. A própria palavra “Terra” em sânscrito é “go”, a mesma palavra para vaca. Aliás, “go” significa também “raio de luz”.

A idéia de que um animal pudesse ser tão amigo do ser humano e estabelecer com ele vínculos tão sólidos, fez com que a cultura Indo-Ariana estendesse esse conceito para todas as outras formas de vida. Tirar a vida de um ser inofensivo se tornaria o mais grave crime dentro da mentalidade védica.

I.1. Ahimsa

A palavra “ahimsa” é comumente traduzida como “não-violência”. Sendo assim, a idéia que se tem é a de que a cultura védica era “pacifista” no sentido moderno da palavra. Isso não corresponde à realidade.

A Índia Antiga era uma sociedade governada por guerreiros (ksatriya) e com uma longa tradição espiritual eminentemente guerreira. Os arianos, além de pertencerem a uma cultura agrícola e pastoril, também eram uma civilização guerreira, aristocrática e sacerdotal. A própria casta sacerdotal não se furtava de atividades guerreiras.

A maioria dos clássicos espirituais da Índia Antiga remetem a batalhas (Bhagavad-Gita, Ramayana, Mahabharata etc.) e neles os deuses são apresentados portando armas, em posição de luta, usando carapaças, armaduras etc. Em uma rápida passada de olhos pelos avatares (manifestações) de Vishnu, por exemplo, podemos constatar que a maioria deles são manifestações guerreiras (Varaha, Narasimha, Rama, Parasurama, Krishna e o vindouro Kalki, ou seja, de dez avatares, seis estão diretamente envolvidos com a guerra).

É muito difícil acreditar que em uma sociedade com tal panorama cultural houvesse uma idéia como “não-violência”, ou seja, uma idéia de “demonização” de toda e qualquer ação violenta, de rendição incondicional, de não uso da força, de não reação perante uma agressão ou coisa parecida.

No Bhagavad-Gita, Capítulo 2, versos 31, 32 e 33, por exemplo, Krisna aconselha Arjuna nos seguintes termos:

Considerando seu dever específico de ksatriya, você deve saber que não há melhor ocupação para você do que lutar conforme determina seu dharma; e assim não há necessidade de hesitação.

Ó Partha, felizes são os ksatriyas a quem aparece esta oportunidade de lutar, abrindo-lhe a porta do paraíso. Se, contudo, você não executar seu dharma e não lutar, então certamente incorrerá em falta por negligenciar seus deveres e perderá sua reputação.”

Sendo assim, a tradução de “ahimsa” como “não-violência”, no sentido que emprestamos hoje a essa palavra, não é correta. A palavra “ahimsa” aparece no Rig-Veda, no Sama-Veda, no Isavasya Upanishad, no Yoga-Sutra de Patanjali entre outros. O conceito é diretamente ligado ao de “Viswaprema”, ou “amor pela vida”.

A palavra “Himsa”, em sânscrito, quer dizer “ferimento”, “lesão”, “dano”, “mal”, “doer”, “malícia” . Himsa é a malícia ou a personificação do desejo de causar dano. “Himsarata” é o prazer em causar dano ou em prejudicar. “Himsakarman” é ato hostil ou injurioso. Sendo assim, “Ahimsa” é, literalmente, “aquilo que não causa dano, mal”, ou “aquilo que não é feito com o desejo de causar dano”, “aquilo que não é feito maliciosamente”.

Violência, em sânscrito é “prabalah” ou “vegavam”. O sentido dessas palavras é a de “exercer uma força contra aquilo que lhe causa obstáculo”, ou seja, não tem uma conotação negativa. É o mesmo sentido de “vento violento”, “choque violento” ou “violenta explosão”, sem um conceito moral intrínseco (M.Monier-Williams, 2008).

 Atacar com violência um malfeitor que lhe causa problemas ou está lhe atacando não porta o sentido de “malícia”, de “desejo de causar dano”, “desejo de causar mal”, mas, pura e simplesmente, de se preservar, preservar a terceiros ou preservar um bem que está sendo usurpado ou atacado. Esse é o senso indo-ariano.

 A ideia de empregar a palavra “violência” como algo negativo é moderna. Tomou sentido mais definido depois de Nietzsche, G. Sorel e o sindicalismo revolucionário (Lalande, 1999). A palavra também adquire contornos negativos com Montesquieu, no “Espírito das Leis”, nada tendo a ver com os conceitos védicos. Atacar um animal não é violência pois não é “exercer uma força contra aquilo que lhe causa obstáculo”, mas sim “himsa”, ou seja é o desejo de causar dano (a morte) ou prejudicar (através de um tratamento cruel) para satisfazer ao próprio desejo (desnecessário) por sua carne.

Os indo-arianos, muito cedo perceberam que não tinham nenhuma necessidade de consumir a carne de animais para manterem-se fortes e saudáveis. Ao seu senso guerreiro, parecia grotesca injustiça e covardia abjeta atacar a um animal indefeso e lhe tirar a vida sem nenhuma necessidade. Assim como os bovinos eram excelentes amigos , os outros animais também deveriam ser respeitados e tinham o direito à vida. Também eles tinham suas funções na Terra. Só seria lícito lhes atacar em caso de defesa.

Dessa maneira, outros animais são agregados ao culto indo-ariano. As serpentes representam o ciclo do tempo, a renovação e auxiliam Siva quando ele suga o oceano envenenado pelas forças do mal. O leão é símbolo da nobreza, a montaria da deusa Durga. O rato é montaria de Ganesa e se reveste de diversos significados, as aves, os répteis e todas as outras formas de vida são valorizadas e respeitadas como parte de um todo indissolúvel chamado vida.

As escrituras hindus vão confirmar essas ideias e lhes revestir de uma autoridade incontestável pela Tradição.

I.2. O Vegetarianismo nas Escrituras Sagradas da Índia Antiga

 As proibições em relação ao carnivorismo dentro da literatura védica são realmente abundantes. Já no Rig-Veda existem vetos explícitos ao consumo de qualquer tipo de carne:

 Aquele que compartilha de carne humana, de carne de um cavalo ou de qualquer outro animal, que priva outros do leite pelo assassínio das vacas, ó rei, se como um demônio ele não desistir por outros meios, então, você não deve hesitar em cortar fora sua cabeça.” (Rig-Veda 10.87.16)

 O Código de Leis de Manu (Manusmriti ou Manava-Dharma-Sastra) é abundante em passagens proibitivas em relação ao consumo de carne. Citaremos apenas algumas passagens, uma vez que há uma coletânea imensa de versos que tratam sobre o tema nessa escritura:

 Aquele que permite o assassínio de um animal, aquele que o corta, aquele que o mata, aquele que o compra ou vende, aquele que o cozinha, aquele que o serve e aquele que o come, todos devem ser considerados como assassinos do animal. Não há nenhum pecador tão grande que aquele que não cultua aos deuses, aos ancestrais e aquele que busca robustecer sua própria carne pela carne de outros seres.” (5.51-52)

 Aquele que machuca seres vivos com o desejo de dar prazer a si mesmo, nunca encontrará felicidade nessa vida nem na próxima.” (5.45)

 Carne nunca pode ser obtida sem dano de seres vivos e ferir aos seres vivos é um impeditivo para se alcançar as bênçãos celestiais; dessa maneira, devemos nos afastar do uso de carne. Considerando bem a desagradável origem da carne e a crueldade de agrilhoar e assassinar seres corpóreos, devemos nos abster inteiramente de comer carne.” (5.48-49)

 No Mahabharata podemos ler:

 O virtuoso Narada disse que o homem que se alegra em aumentar sua própria carne comendo a carne de outras criaturas, se encontrará com o desastre.” (115.12)

 Patifes e velhacos iniciaram a oferenda de bebidas alcoólicas, peixes, animais e sacrifícios humanos em um yagya (rito). Eles têm um temperamento demoníaco e desejam comer carne em um yagya. Nos Vedas, comer carne é proibido.” (Shantiparv)

 No Bhagavad Gita as referências são menos explícitas, pelo fato de não se tratar de um livro que elenca leis. No entanto, Krishna deixa bem claro que a ele só se devem oferecer alimentos livres de carne e que seus devotos só devem alimentar-se com alimentos que foram primeiramente oferecidos a ele. Sendo assim, a proibição do consumo de carne é tácita:

 Os pertencentes (a esse ensino, de Krishna), libertam-se de toda espécie de obstáculos, (pois comem) alimentos que foram oferecidos em um yagya. (Outros) que preparam alimentos para a satisfação de si próprios, na verdade, comem apenas coisas sujas.” (3-13)

 Se alguém me oferecer com amor e devoção, uma folha, uma flor, frutas ou água, eu as aceitarei.” (9.26)

 Aquele que não é invejoso, mas é um amigo bondoso para todos os seres vivos, que não se considera proprietário e está livre do falso ego, que é equânime tanto na felicidade quanto na aflição, que é tolerante, sempre satisfeito, auto-controlado e ocupa-se com o yoga com determinação, tendo sua mente e inteligência focados em Mim – tal devoto me é querido. ( 12.13-14)

 Alimento preparado mais de três horas antes de ser ingerido, alimento insípido, decomposto e putrefato, e alimento que consiste em refugos e substâncias intocáveis atraem aqueles que estão na escuridão.” (17.10)

 Cremos não haver necessidade de citações e explicações adicionais nesse ponto. A clareza e abundância das citações escriturísticas hindus nos mostram bem claramente qual era o contexto ideológico em que o Buda histórico nasceu e foi criado. Algumas dessas escrituras citadas são posteriores ao período em que se estima que o Buda tenha vivido. No entanto, são uma clara demonstração da importância dada ao vegetarianismo dentro da Antiga Índia, sendo apenas a formalização escrita de práticas bem mais antigas.

II. O Buda histórico e o Vegetarianismo

 Os dados de que dispomos sobre a vida do Buda histórico se baseiam nos sutras, em seus estudos e na historiografia budista.

 Tendo em vista o panorama cultural da Antiga Índia, seria quase inquestionável o fato de Buda ser vegetariano. Um membro da nobreza guerreira não vegetariano seria uma exceção que causaria escândalo na sociedade. No entanto, modernos estudiosos do Budismo levantaram uma série de objeções em relação a isso. Curiosamente, a maioria desses estudiosos estavam, de alguma forma, ligados a facções budistas com interesses em provar que Buda não era vegetariano para justificar as próprias práticas institucionais. A isenção dessas fontes é bastante questionável. No entanto, é nosso dever científico analisar os argumentos apresentados e, se for o caso, aceitarmos, como ao menos possíveis, seus argumentos. Nosso interesse específico neste artigo é dar acesso teórico às práticas defendidas pela antiga doutrina budista em si e não aos desdobramentos e inovações que poderão ser estudados em um artigo futuro.

Caberia aqui lembrar que entre os budistas japoneses, coreanos, tibetanos e do sudeste Asiático, a absoluta minoria é vegetariana. Já entre os budistas chineses e taiwaneses, o vegetarianismo é uma regra observada com extrema seriedade.

No Japão, por exemplo, ocorre um fenômeno bastante curioso. Os templos que oferecem treinamento aos monges, com exceção dos da “Escola da Verdadeira Terra Pura” e os praticantes do “Shugendô” (uma religião que mistura xamanismo e Budismo Esotérico), são vegetarianos estritos. No entanto, depois que acaba o treinamento básico (em regime de internato) nos templos, os monges já ordenados passam a comer carne sem nenhuma restrição. Da mesma maneira, os fiéis não observam quaisquer restrições dietéticas, mas sabem que é proibido fazer qualquer oferenda com carne nos altares budistas.

II.1. Buda e a “Carne de Javali”

 A afirmação inicial utilizada para validar o argumento de que Buda consumia carne é o de que ele morreu devido a uma infecção causada por carne de Javali, carne essa que lhe teria sido servida por um ferreiro, Chanda. A citação vem do Cânon Páli, Digha Nikaya 16, Mahaparinibbana Sutta, 4.13-20. O texto original diz que Buda consumiu “suska sukara-mardava”, o que foi traduzido como “carne seca de javali” ou como “delícias de porco”. No entanto, essa tradução é incorreta.

 O termo “suska” significa seco. Mas o termo “sukara-mardava” significa literalmente “macio como a carne de um javali”. Se estudarmos antiguidades indianas, vamos descobrir que a região de Pava, onde Buda serviu-se de sua fatídica refeição, é rica em um tipo de cogumelo chamado exatamente de “sukara-mardava” por causa de sua consistência.

 A carne seca de Javali era consumida nas áreas onde tal animal era raro e, em geral, era trazido de outras regiões, isto é, era salgada e ressecada para que não se estragasse no transporte. No entanto, na região relatada no sutra, havia durante todo o ano javalis de todas as idades, ou seja, era fácil a obtenção de carne fresca, não havendo necessidade do consumo de carne seca. Além disso, Chanda, o ferreiro, era proibido por dever de casta de matar um javali.

 Em Pava, as classes menos abastadas consumiam o cogumelo “sukara mardava” fresco nas épocas de chuva e o secavam para se utilizarem dele em outras épocas do ano, quando havia escassez do produto. A época em que Buda morreu se situa exatamente no período fora da estação chuvosa (na estação chuvosa, os monges se recolhiam) como apontam os estudos do sanscritista Rhys Davids em seu livro “The Buddhist Suttas”.

 Outro fato notável: estudos feitos com o cogumelo “sukara mardava” mostram que algumas variedades de tal cogumelo são venenosas e que podem causar a morte. Uma das principais manifestações clínicas do envenenamento é uma intensa diarréia. Buda morreu exatamente com esse sintoma. O argumento de que Buda morreu por ter consumido carne se torna, dessa maneira, insustentável.

II.2. O Sutra Jivaka

 A citação de um verso do Jivaka Sutta (Majjhima Nikaya 55) para justificar o consumo de carne e afirmar que Buda comia carne é também grandemente utilizado. A citação em questão é:

 Jivaka, existem três situações nas quais a carne não deve ser comida: quando for visto, ouvido ou suspeitado que o animal tenha sido sacrificado para o bhikkhu. Eu digo que carne não deve ser comida nessas três situações. Eu digo que há três situações nas quais carne pode ser comida: quando não for visto, ouvido ou suspeitado que o animal tenha sido sacrificado para o bhikkhu. Eu digo que carne pode ser comida nessas três situações.”

 Segundo as regras monásticas hinayana, os monges budistas deveriam viver dos alimentos que conseguissem obter através da doação dos leigos. Só poderiam comer uma única refeição por dia antes do meio-dia. Só poderiam rejeitar doações no caso de verem, ouvirem ou suspeitarem que haviam abatido o animal para seu consumo. Em outras palavras, se o animal já tinha sido morto para o consumo de outros e, portanto, não houve nenhuma participação nem direta nem indireta da pessoa do monge nesse abate, poderia comer. Caso houvesse a mínima suspeita, estava totalmente proibido de fazê-lo. Ou seja, a chegada da carne à tigela do monge deveria ser um acaso absoluto. Ele pediria esmola em uma casa qualquer e, por acaso, lhe dariam como esmola os restos de comida da família onde haveria carne. Nem os doadores sabiam que o monge ia pedir, nem o monge sabia o que ia receber. As casas não podiam ser repetidas. 

Cabe lembrar que os monges da época do texto pediam em todas as casas e que não podiam “pular casas” para não pedir em uma casa onde pessoas não observavam as regras morais. Sudras, por exemplo, comiam carne. Os drávidas nativos continuavam abatendo animais em seus rituais e para consumo. A comida dada era a única disponível para o consumo dos monges. As pessoas, às vezes, comiam a carne de animais que já tinham sido encontrados mortos ou, em épocas de maior escassez da natureza, a caça era a única alternativa à existência.

 Essa é uma regra bastante específica. De qualquer forma, fica bastante evidente que a carne especificamente abatida para que alguém a compre ou abatida para que um budista a coma, é totalmente proibida. Sendo assim, se o Buda histórico consumiu carne, o fez dentro de uma contingência de completa exceção e não como algo “normal” e aceitável.

II.3. O argumento de que “Não Matar” é impossível

 Um argumento surgido recentemente é o de que o preceito de “não matar” é impossível de ser cumprido. A justificativa é que cada ato que possibilita a manutenção da vida envolve matar. Dessa forma, lavar as mãos ou tomar banho mata bactérias e microorganismos. Ao colhermos verduras e frutas estamos matando-as. Para cultivá-las é necessário matar eventuais pragas. Para cultivar frutas é necessário manter os pássaros afastados. Ao caminharmos pelas ruas, esmagamos pequenos seres vivos. Ao nos recostarmos em um lugar qualquer também estamos matando. Ao lavarmos as roupas matamos e assim por diante.

 O ponto central desse argumento é a impossibilidade de se delimitar uma escala de “valoração” em relação à vida animal, microbiana, bacteriana ou vegetal. Tendo em vista esse argumento, se afirma que o próprio Buda não cumpria o preceito. Sendo assim, comer ou não comer carne se tornaria irrelevante para a observância supostamente impossível do preceito.

 Dentro de um discurso retórico de aparência racional, esse nos parece ser o argumento mais forte. As escrituras budistas, no entanto, já haviam previsto esta justificativa que pode soar “lógica” para a mentalidade moderna, mas não tem nenhuma base sólida para a Lógica Budista e está fora do sistema de categorias utilizado pelos sutras e sastras.

 A Lógica Budista foi grandemente desenvolvida por mestres do século VI e VII da E.C. Os mais destacados entre esses mestres foram Dignaga e Dharmakirti.

 Teorias como as ‘formas do silogismo’ (parartha-anumana), a ‘essência do julgamento’ (adhyavasaya – niscaya-vikalpa), a ‘importância dos nomes’ – (apoha-vada), ‘inferência’ (svartha-anumana) e muitas outras (Stcherbatsky, 1996), dão ao estudioso dos sutras um critério muito claro para as questões relativas à interpretação. O primeiro critério para a quebra do preceito de não matar refere-se ao nível de consciência daquilo que é morto. Quanto maior o nível de consciência, mais grave o ato, uma vez que quanto maior o nível de consciência, maior o sofrimento envolvido.

 O segundo critério é que aquele que mata tenha a intenção de ferir e matar desnecessariamente, ou seja, sem nenhuma necessidade extrema.

 O terceiro critério é que aquele que mata tenha consciência de seu ato, ou seja, que esteja plenamente ciente de que está tirando a vida e de que as causas pelas quais ele tira a vida não são de necessidade absoluta. Esses critérios ficam claros quando, por exemplo, no Sutra do Nirvana (do cânone Mahayana, não confundir com o “Mahaparinibbana-sutta” do cânone Páli), são expostos os “graus de matança”. Diz o texto:

 Há três graus de matança: o inferior, o médio e o superior. O grau inferior consiste na matança de qualquer ser comum, desde uma formiga a várias espécies de animais. (…)

 Como conseqüência da matança de grau inferior, a pessoa cairá no mundo infernal, no mundo dos preta (fantasmas famintos) e no mundo dos animais e sofrerá as dores próprias à matança desse grau. Por que deve ser assim? Porque mesmo os animais e outros seres comuns possuem as raízes do bem, por menores que elas possam ser. Eis por qual motivo uma pessoa que mata seres sencientes como esses deve receber a máxima punição por essa ofensa.

Matar qualquer ser humano, desde um mortal comum a um anagamin[2], constitui-se matança de grau médio. Como resultado desse ato, a pessoa cairá no mundo infernal, dos preta e dos animais e sofrerá as dores próprias à matança de grau médio. O grau superior de matança refere-se a matar os pais, um arhat, um pratyekabuddha[3] ou um bodhisattva[4] que atingiu o estado da não-retrogressão. Por esse crime, a pessoa cairá no grande inferno Avici[5]. Bons homens, se uma pessoa fosse matar um icchantika[6], essa matança não cairia em nenhuma das três categorias mencionadas. Bons homens, os vários brâmanes que eu disse ter matado, todos eles de fato eram icchantikas.”

Esse extrato do Sutra do Nirvana deixa claro que a doutrina budista considera os “icchantika” como inferiores a uma formiga, apesar de serem humanos. A referência aos brâmanes que Buda disse ter executado encontra-se na seguinte passagem do mesmo sutra:

 Quando observo o passado, recordo que era um rei de um grande estado neste continente de Jambudvipa. Meu nome era Rsidatta e eu amava e venerava as escrituras do Mahayana. Meu coração era puro e bom e eu não tinha nenhum traço de maldade, inveja ou avareza. Bons homens, naquela época eu abrigava os ensinos do Mahayana em meu coração. Quando ouvi brâmanes caluniando esses sutras corretos e justos, mandei matá-los imediatamente. Bons homens, como resultado dessa ação, nunca mais caí no mundo infernal.”

Matar um icchantika não cai em nenhuma das categorias de matança porque, pelos critérios lógicos enunciados acima:

O icchantika tem um nível de consciência muito baixo. Não se compadece com a dor alheia e não se importa com o sofrimento que inflige. Não consegue manifestar nenhuma característica de sua natureza búdica e é refratário aos ensinamentos (vide critério primeiro).

 Quem mata um icchantika não o faz com intenção de ferir e matar desnecessariamente. O icchantika é uma ameaça ao meio em que vive, causando o mal e o sofrimento aos seres que o cercam e sem nenhuma possibilidade de modificação de comportamento. Eliminar o icchantika é visto pela ótica das escrituras budistas como uma medida saneadora (vide critério segundo).

 Ao matar o icchantika, apesar de se ter consciência do ato de matar em si, há uma “necessidade absoluta” envolvida, ou seja, a segurança de outros muitos seres (vide critério terceiro).

 Os mesmos critérios podem ser aplicados em relação à argumentação de que, mesmo que não se coma carne, quebra-se o preceito de não matar.

Quando matam-se micro-organismos, vírus e bactérias, se faz por necessidade absoluta de sobrevivência (segundo critério), ou seja, não se enquadra como quebra de preceito.

Quando se “matam” verduras, grãos e legumes para o consumo, as verduras não têm consciência do sofrimento uma vez que não são portadoras de sistema nervoso ou de “sentidos” (primeiro critério). O fato de “matá-las” através da colheita é uma necessidade absoluta de alimentação (segundo critério). Ou seja, não se enquadra na quebra de preceito.

Quando se matam seres ao deslocar-se pelas ruas, recostar-se em algum lugar ou mesmo simplesmente respirar, não há intenção ao fazê-lo (segundo critério) e nem consciência do fato quando ele ocorre (terceiro critério).

Se outras pessoas, voluntariamente, matam animais para salvar suas colheitas de frutas etc., aquele que consome as frutas não é culpado pelo fato uma vez que não o presenciou (assentindo com ele, o que o enquadraria no segundo e terceiro critérios) e não sabe se ocorreu (terceiro critério). Aqui, o máximo que se poderia fazer é deixar clara uma posição contrária ao emprego de meios letais desnecessários para preservação de colheitas.

Já no caso do consumo de carne, a quebra do preceito é evidente segundo os critérios da Lógica Budista.

Os animais abatidos têm consciência e sentem dor. Os peixes, por exemplo, têm uma enorme quantidade de terminações nervosas na boca. Quando são fisgados, um gancho lhes atravessa o palato, o que ocasiona muita dor. Ao serem pegos pela rede, se debatem desesperadamente pois estão sufocando fora da água. A intensidade de suas contorções dão idéia do sofrimento pelo qual estão passando. Os bovinos demonstram medo intenso ao se encaminharem para o abate. O modo como são encarcerados e tratados até o abate os torna doentes e deprimidos. Suínos correm e gritam desesperadamente quando percebem que serão abatidos. Ao serem esfaqueados, guincham sofregamente e, até se exaurirem em meio ao próprio sangue, tentam resistir.

 Aves fogem desesperadas mediante a mera possibilidade de serem capturadas. As galinhas demonstram grande cuidado para com os pintinhos, os defendendo de qualquer aproximação o que demonstra um alto nível de acuidade.

Porcos são comprovadamente mais inteligentes que cachorros. Conseguem desenvolver afeto por humanos e até por outras espécies animais.

O primeiro critério aponta, então, para uma alta gravidade no fato de extinguir a vida de um animal tendo em vista sua consciência e o sofrimento causado pelo ato. Quando matam um animal para o consumo humano, o fazem tendo em vista o lucro que a venda da carne ocasionará. Quem compra a carne, então, está pagando o serviço, ou seja, é como se matasse diretamente.

O ser humano não tem necessidade de consumir carne. Aliás, diversos estudos apontam que o consumo da carne é prejudicial, apesar do intenso lobby feito pela indústria pecuária no sentido de forçar resultados contrários e espalhar boatos a respeito.

A quantidade de proteínas diárias necessárias a um ser humano é facilmente obtida através de uma série de alimentos. A soja, por exemplo, fornece mais proteínas que a carne.

Mediante tais informações o ato de exterminar animais para o consumo humano se enquadra no segundo critério, ou seja, é matar e ferir intencionalmente sem nenhuma necessidade.

Quem come carne tem plena consciência de que foi necessário exterminar uma vida para produzir a carne. Ninguém acha que carne é algum fruto ou que existe algo como uma “plantação de bifes”. Plenamente enquadrado no terceiro critério que determina a quebra do preceito.

Dessa forma, utilizando a Lógica Budista, se torna insustentável o argumento de que cumprir o preceito de não matar é impossível ou que o próprio Buda histórico não cumpria o preceito.

III. O Vegetarianismo como preceito positivo nos Sutras Mahayana

Vários sutras Mahayana trazem proibições explícitas ao consumo de carne. Os sutras são a fonte principal dos ensinamentos budistas.

Brahmajala-Sutra (Bonmon-Kyô), o sutra que enumera os preceitos do bodhisattva:

Um discípulo de Buda não deve comer carne deliberadamente. Ele não deve comer carne de nenhum ser vivo. O comedor de carne perde a semente da Grande Compaixão, corta a semente de sua natureza búdica e faz com que todos os seres (animais e transcendentais) o evitem. Aqueles que o fazem são culpados por inumeráveis ofensas. Assim, Bodhisattvas não devem comer carne de nenhum ser senciente que seja. Se, no entanto, ele o faz, ele comete uma ofensa secundária (samghavasesa)”.

Uma “ofensa secundária” ou “samghavasesa” é o equivalente a ser excluído da Sangha temporariamente e ser castigado pelo crime cometido. É o segundo pior tipo de quebra de preceitos mais grave que pode haver.

O Lankavatara-Sutra, é uma escritura que foi traduzida para o chinês por Gunabhadra, pela primeira vez, no ano de 443 E.C. Gunabhadra foi um importante tradutor da Índia Central que viajou para o Sri Lanka e depois chegou à China no Período Liu Song. Ele trouxe da Índia o Lankavatara Sutra, assim como o Srimala-devi-simhananda Sutra.

Todo o capítulo oitavo do Lankavatara Sutra, Dharani, é dedicado a expor as razões pelas quais o budista não deve consumir carne. O reproduzimos aqui na íntegra:

Naquela época, Mahamati, o Bodhisattva-Mahasattva pediu ao abençoado por mais explicação: Fale-me Abençoado, Tathagata, Iluminado, sobre o mérito e vício relativo à questão de comer carne; para que deste modo eu e outros bodhisattvas do presente e do futuro possamos ensinar o Dharma a fim de fazer com que os seres abandonem seu ávido apego por carne, seres que sob a influência da energia do hábito relativo às existências carnívoras anseiam intensamente por comidas de carne. Esses comedores de carne, ao abandonarem esse desejo, irão buscar o Dharma e considerar todos os seres com amor, como se fossem seus filhos, e terão grande júbilo e compaixão pelos seres. Desenvolvendo compaixão eles irão colocar a si mesmos, com disciplina, nos estágios para a senda dos bodhisattvas e se tornarão despertos em grande iluminação.

Abençoado, mesmo aqueles filósofos que mantêm idéias errôneas e estão apegados às visões do Lokayata tais como o dualismo da existência e não-existência, o niilismo e o idealismo, mesmo eles irão proibir o consumo de carne e irão eles mesmos pararem de consumir. Ó Grande Instrutor, aquele que promove a misericórdia é um ser iluminado; não há nada de ruim em impedir o consumo de carne, não só para si mesmo, mas para os outros também. Sim, deixe que O Abençoado, cujo coração está preenchido com amor pelo mundo todo, que considera todos os seres como seus filhos e que possui grande compaixão em conformidade com seus sentimentos bondosos, ensine-nos sobre o mérito e vício relativo ao consumo de carne, de modo que eu e outros bodhisttavas possamos ensinar o Dharma.

O Iluminado respondeu: “Escute então, Mahamati, e reflita bem; Eu lhe direi.”

Certamente, ó Iluminado.” Respondeu Mahamati, o Bodhisattva-Mahasattva. E pôs-se a ouvir.

O Iluminado disse então a ele: Por inúmeras razões, Mahamati, o Bodhisattva, cuja natureza é compaixão, não deve comer nenhuma carne; Explicarei: Mahamati, nessa longa jornada de renascimentos, não há um ser que, tendo assumido a forma de um ser vivo, não tenha sido sua mãe, pai, irmão, irmã, filho ou filha, ou outro dos laços que unem; ao renascer poderão adquirir a forma de animais, selvagens ou domésticos; assim sendo, como pode um Bodhisattva-Mahasattva, que tenciona aproximar-se de todos os seres como se fossem ele mesmo e praticar as verdades ensinadas pelo Buda, comer a carne de seres vivos que possuem a mesma natureza que ele mesmo? Mahamati, mesmo o Rakshasa que ouve os discursos do Tathagata sobre a elevada essência do Dharma alcança a percepção da necessidade de proteger o Dharma e ter compaixão; até mesmo ele evita o consumo de carne. Então Mahamati, onde quer que haja evolução de seres vivos, que as pessoas divulguem com alegria o sentimento de equanimidade, e pensem que todos os seres vivos devem ser amados como filhos únicos, que todos deixem de comer carne! A carne de um cachorro, jumento, búfalo, cavalo, homem ou qualquer outro ser, não é para ser comida. O Bodhisattva, portanto, não deve comer carne.

Pelo amor à pureza, Mahamati, o Bodhisattva deve evitar a carne, que nasce através de sêmen e sangue etc. Por receio de causar sofrimento a outros seres, Mahamati, o Bodhisattva, que se dedica a atingir elevada compaixão, não deve comer carne. Para ilustrar: quando um cão vê à distância um caçador, cujo desejo é comer carne, ele se apavora e pensa “eles são assassinos, irão me matar”. Da mesma maneira, Mahamati, até mesmo os animais que vivem nos céus, na terra e na água, ao verem comedores de carne à distância, perceberão nos caçadores, por seu aguçado olfato, o desejo por carne, e fugirão de tais pessoas o mais rápido que puderem; pois tais pessoas são para os animais a ameaça de morte. Por esta razão, Mahamati, que o Bodhisattva que se dedica ao caminho da iluminação, que busca ater-se à grande compaixão, deixa de comer carne, para não aterrorizar os seres vivos. Mahamati, a carne, morta por pessoas sem sabedoria, está cheia de um odor fétido e consumi-la traz má reputação, o que faz com que pessoas sábias se afastem; O Bodhisattva não come carne. A comida dos sábios, Mahamati, é a mesma dos Rishis. Não consiste de carne e sangue. Portanto, Mahamati, o Bodhisattva não come carne.

A fim de proteger a mente de todas as pessoas, o Bodhisattva, cuja natureza é pura e santa e que não deseja que o ensinamento do Buda seja distorcido, abstém-se de carne. Pois, Mahamati, há pessoas que falam mal do ensinamento do Buda, elas dizem: “Porque aqueles que dizem estar vivendo a vida de um Sramana ou um Brâmane rejeitam a comida consumida pelos Rishis e, como animais carnívoros vagam pelo mundo aterrorizando as criaturas, ignorando a vida que deve ser levada pelo Sramana e destruindo os votos do Brâmane? Não há nenhum Dharma em suas mentes, nenhuma disciplina.” Há muitas pessoas que por essa causa tornam-se mentalmente desfavoráveis aos ensinamentos do Buda. Por esta razão, Mahamati, a fim de proteger a mente das pessoas, o Bodhisattva, cuja natureza é cheia de misericórdia e que deseja evitar que o ensinamento do Buda seja distorcido, abstém-se de carne.

Mahamati, o odor fétido emitido por um cadáver é ofensivo. Que o Bodhisattva abstenha-se de carne. Quando carne é queimada, seja de um homem morto ou de outra criatura, não há distinção entre o odor. Qualquer tipo de carne, quando queimada, emite um odor igualmente nocivo. Portanto, Mahamati, que o Bodhisattva, que deseja a pureza em sua prática, abstenha-se totalmente do consumo de carne.

Mahamati, quando filhas da boa linhagem, desejando exercitarem-se em várias disciplinas, tais como o desenvolvimento de um coração compassivo, o domínio de fórmulas mágicas, ou o conhecimento mágico perfeito, ou, ao engajarem-se em uma peregrinação pela senda Mahayana, retiram-se para lugares isolados, demônios se aproximarão delas se ainda comerem carne. Se, sentadas em poltronas ou assentos dedicados à prática, serão impedidas de desenvolver siddhis ou alcançar a libertação por causa do consumo de carne.

Até mesmo a visão de formas objetivas faz com que surja o desejo de provar seu sabor, que o Bodhisttava, cheio de piedade e considerando todos os seres como seus filhos, abstenha-se de carne completamente. Reconhecendo que sua boca tem cheiro extremamente fétido, mesmo estando vivo, o Bodhisattva, cuja natureza é piedade, abstém-se totalmente de comer carne.

O comedor de carne dorme mal e acorda perturbado. Ele sonha com acontecimentos terríveis. Ele vive sozinho em uma cabana vazia; seu espírito é perseguido por demônios. Freqüentemente ele é abatido pelo medo, ele treme, sem saber o por quê. Não há regularidade em sua dieta e ele nunca está satisfeito. Em seu comer, ele nunca sabe o que é o gosto próprio dos alimentos, a digestão e a nutrição. Suas vísceras estão entupidas com vermes e outras criaturas impuras por causa da carne. Ele já não se sente tão avesso a doenças. Se eu ensino que consideremos a comida com se estivéssemos comendo nossos próprios filhos ou tomando drogas, como poderia eu permitir que meus discípulos, Mahamati, alimentassem-se de carne e sangue, que são gratificantes aos tolos mas abomináveis aos sábios, que trazem muito mal e afastam muitos méritos; que não são oferecidas aos Rishis e são inadequadas?

Agora, Mahamati, a comida que eu permito que meus discípulos consumam agrada aos sábios e é evitada pelos ignorantes; mantém a maldade afastada e é prescrita pelos antigos Rishis. Consiste de arroz, cevada, trigo, feijões, lentilha, óleos, mel, melado, frutas etc.; comida preparada com estes ingredientes é a boa comida. Mahamati, pode haver pessoas irracionais no futuro que irão discriminar e estabelecer novas regras de disciplina ética e que, sob a influência da energia de hábito pertencente às raças carnívoras, irão avidamente desejar o gosto da carne: não é para tais pessoas que a alimentação acima foi sugerida. Mahamati, esta é a comida que eu indico para os Bodhisattvas-Mahasattvas, que se dedicaram aos Budas, que germinaram sementes de bondade e têm confiança. Aqueles que são todos da família do Sakyamuni, filhos e filhas de boas famílias, que não têm apego ao corpo, à vida, às propriedades, que não cobiçam prazeres, não são gananciosos, que, sendo compassivos, desejam abarcar a todos os seres vivos e consideram a todos como eles mesmos, que têm afeto pelos seres como se fossem seus filhos.

Há muitos males em comer carne Mahamati, numerosos vícios são gerados nas mentes pervertidas daqueles que estão engajados no consumo de carne. Os ignorantes e de mente fraca não estão cientes de tudo isso, e dos deméritos ligados ao consumo de carne. Saiba, Mahamati, que conhecendo isto, o Bodhisattva, cuja natureza é piedade, abstém-se de carne.

Mahamati, se a carne não é consumida por ninguém por razão alguma, então não haverá mais destruição da vida. Na maioria dos casos o extermínio de seres inocentes é feito por motivos de orgulho e raramente por outras causas. Nada de bom pode ser dito sobre comer a carne de seres sencientes, e alguém contaminado pelo ávido desejo de carne pode chegar ao ponto de comer carne humana! Mahamati, na maioria dos casos, armadilhas e outros dispositivos são colocadas em vários locais por pessoas que perderam a noção de seu apego pelo gosto da carne, e, assim, muitas vítimas inocentes são destruídas por causa do valor atribuído a elas. Há até mesmo aqueles, Mahamati, que são como Rakshasas de coração duro, e que costumam praticar crueldades. Aqueles que, sendo completamente sem compaixão, pensarão nos seres vivos como sendo destinados ao consumo e destruição – nenhuma compaixão surgirá nesses.

Não é verdade que a carne é comida aceitável e permissível para o Sravaka quando a vítima não foi morta por este, quando este não pediu a outros que a matassem e quando não era especialmente destinada a ele. Novamente, Mahamati, haverá pessoas inconseqüentes no futuro que se engajando no caminho ensinadas por mim e conhecidas como filhos de Sakya, pessoas que vestirão o manto Kashaya como um emblema, mas que serão em pensamento terrivelmente afetadas pelo klesha das noções errôneas. Eles falarão sobre suas várias práticas de disciplina, apegados à visão de uma alma pessoal. Sob a influência do desejo pelo sabor da carne criarão argumentos sofistas para defender o consumo de carne. Pensarão que estarão permitindo que eu seja caluniado quando falam de fatos possíveis de interpretar de várias formas. Imaginando que este fato em particular seja possível interpretar, eles concluirão que o Iluminado permite o consumo de carne, e que esta é mencionada entre os alimentos permitidos e que provavelmente o próprio Tathagata o consumiu. Mas, Mahamati, em lugar algum nos sutras o consumo de carne é permitido, nem referido como sendo próprio entre os alimentos sugeridos aos seguidores do Buda.

Se eu tivesse, Mahamati, uma mente que permitisse o consumo de carne, se eu dissesse que ela é própria para os Sravakas, eu não teria proibido o consumo de carne para estes iogues, filhos e filhas da boa linhagem. Desejando compartilhar a idéia de que todos os seres vivos são para eles como um filho único, esses iogues são compassivos, praticam a contemplação e uma vida ascética, eles seguem o caminho do Mahayana. Mahamati, este ensinamento de que não se deve comer carne é aqui dado a todos os filhos e filhas da boa linhagem, sejam eles ascetas das florestas ou iogues que praticam os exercícios, se eles desejam o Dharma e estão trilhando o caminho. Possuindo compaixão, consideram todos os seres como filhos, assim atingem a meta de sua disciplina.

Nos textos canônicos o processo de disciplina é desenvolvido em seqüência ordenada, como uma escada em que se sobe passo a passo, degrau por degrau, cada um unido ao outro de maneira regular e metódica. Há uma proibição quanto à carne encontrada em animais já mortos. No presente sutra qualquer forma de consumo de carne, de qualquer maneira e em qualquer lugar, é incondicionalmente e uma vez por todas, proibida a todos. Assim, Mahamati, eu não permito que ninguém coma carne, nem permitirei. Alimentar-se de carne, Mahamati, é impróprio para monges. Poderá haver alguns, Mahamati, que dirão que o Tathagata consumiu carne, eles o farão achando que isso irá caluniá-lo. Pessoas ignorantes como essas serão amaldiçoadas por seu próprio carma impeditivo, e cairão nas regiões onde longas noites se passam sem ganho nem alegria. Mahamati, os nobres Sravakas não consomem a comida das pessoas comuns, muito menos a comida que vem da carne e do sangue, que é de todo imprópria. Mahamati, o alimento próprio para meus Sravakas, Pratyekabuddhas e Bodhisattvas é o Dharma, e não a carne. O Tathagata é o Dharmakaya, Mahamati; ele se atém ao Dharma como alimento; seu corpo não é um corpo que se alimentou de carne; ele não suporta nenhum alimento cárneo. Ele já se expurgou da energia-hábito de sede e desejo que mantém preso à existência; ele mantém a má energia-hábito das paixões afastada; ele é totalmente emancipado em mente e sabedoria; ele é aquele que tudo sabe, que tudo vê; ele considera a todos os seres com imparcialidade e como seus filhos; ele é um grande coração compassivo. Mahamati, considerando que todos os seres são como um filho único, como posso eu permitir que os Sravakas comam a carne de seus próprios filhos? Muito menos eu o faria! Afirmar que eu permiti que os Sravakas, assim como eu mesmo, tomassem parte no hábito de comer carne, Mahamati, é algo totalmente sem fundamento.

É dito:

1. Licor, carne e cebola devem ser evitados pelos Bodhisattvas-Mahasattvas e por aqueles que são heróis da vitória.

2. A carne não agrada aos sábios: possui um odor fétido e nauseante, causa má reputação, é comida para os carnívoros; Digo-lhe Mahamati, não deve ser consumida.

3. Àqueles que consomem carne há efeitos ruins, àqueles que não a consomem, méritos; Mahamati, você deve saber que os comedores de carne trazem para si mau carma.

4. Que o iogue deixe de comer carne, já que a carne também cresce nele e o ato de comê-la é uma transgressão, já que a carne é produzida por sêmen e sangue e o ato de matar os animais aterroriza os seres.

5. Que o iogue sempre deixe de comer carne, cebola e os vários tipos de licor e alho.

6. Não unte seu corpo com óleo de gergelim; não durma em uma cama cheia de espinhos; os seres que vivem em cavidades e fora delas ficarão terrivelmente assustados.

7. Do comer carne surge arrogância, da arrogância surge uma noção errônea, e dela a ganância; por esta razão deixe de comer carne.

8. Da imaginação surge a ganância, e com a ganância a mente fica estupefata; surge apego à estupefação e assim não há libertação do nascimento e morte.

9. Por causa de lucro seres sencientes são destruídos, pela carne é dado dinheiro, isto é uma ação errônea e a ação irá maturar nos infernos.

10. Aquele que come carne, ignorando as palavras do Muni, tem uma mente maldosa; ele é apontado nos ensinamentos do Sakya como o destruidor do bem-estar dos dois mundos.

11. Esses causadores de mal irão para os mais terríveis infernos; comedores de carne serão jogados em horríveis infernos, tais como o Raurava etc..

12. Não há carne que possa ser considerada pura, seja ela não premeditada, não pedida e não impelida. Portanto, deixe de comer carne.

13. Que o iogue não coma carne, é proibido por mim assim como pelos Budas; Seres que se alimentam uns dos outros renascerão entre os animais carnívoros.

14. Aquele que come carne cheira mal, é desdenhoso e privado de inteligência; ele nascerá novamente e novamente nas famílias de Candala, Pukkasa e Domba.

16. O consumo de carne é rejeitado por mim em sutras como o Hastikakshya, o Mahamegha, o Nirvana, o Anglimalika e este, o Lankavatara.

17. O consumo de carne é condenado pelos Budas, Bodhisattvas e Sravakas; se alguém devora a carne sem sentir-se envergonhado, para sempre esta pessoa será insensata.

18. Aquele que evita a carne etc., nascerá, por causa disso, na família dos Brâmanes, dos Iogues, dotado com conhecimento e bem-estar.

19. Que a pessoa evite todo tipo de consumo de carne, ignorando o que outros possam dizer; esses teóricos que nasceram em famílias carnívoras não entendem nada.

20. Assim como a ganância é um impedimento para a libertação; da mesma forma, consumir carne, licor etc., também são impedimentos.

21. Poderá haver uma época em que as pessoas passem a fazer tolas afirmações sobre o consumo de carne, dizendo: “A carne é própria para se comer e permitida pelo Buda”.

22. “Comer carne é uma medicina”; novamente, lembre que é a carne de uma criança; siga as medidas corretas e seja avesso à carne.

23. O consumo de carne é proibido por mim em todo lugar e em todos os tempos para aqueles que estão procurando desenvolver a compaixão; aquele que come carne renascerá como um leão, tigre, lobo etc.

24. Portanto, não coma carne, tal ato causará terror entre as pessoas, pois impede que surja a verdade da libertação; Deixar de comer carne – este é o ensinamento dos Sábios.

Aqui termina o oitavo capítulo, “Sobre o consumo de carne”, do Sutra Lankavatara, a essência do ensinamento de todos os Budas.”

No Kandaraka Sutra, do cânone Páli encontramos:

Que tipo de pessoa, bhikkhus, não atormenta a si mesma nem se dedica à prática de torturar a si mesma e ela também não atormenta os outros, nem se dedica à prática de torturar os outros – aquela que… se abstém de aceitar carne sangrenta.”

O Capítulo XIII do Sutra do Lótus faz repetidas advertências em relação ao consumo da carne, e mais, proíbe até as relações com aqueles que se envolvem na indústria da matança e venda dos animais. O capítulo é extenso e não cremos haver necessidade de reproduzi-lo aqui uma vez que, nos parece, está suficientemente documentada a posição budista em relação ao consumo de carne.

IV. Conclusão

Apesar de objeto de muitas discussões e controvérsias, a nós parece bastante claro o fato do Budismo advogar vigorosamente o vegetarianismo. Como dissemos, no início desse artigo, os estudiosos que tentam desmentir tal fato carecem de provas documentais e doutrinárias para sustentar suas posições.

A maioria das religiões tem prescrições relativas à dieta. Sejam as religiões semitas, onde há um rígido posicionamento em relação ao consumo de determinados alimentos, sejam nas religiões africanas, autóctones ou arianas, a questão da alimentação sempre desempenha um papel de significativa importância na prática religiosa.

O estudo das relações desempenhadas entre religião e nutrição ainda são bem poucos e carecem de maior atenção.

Mesmo dentro das tradições cristãs, mais próximas dos estudiosos da religião de forma geral, existem facetas inexploradas sobre este objeto de estudo. A abstenção de vários alimentos por parte dos monges, as restrições em relação aos alimentos de origem animal em determinados períodos do ano para todos os fiéis (nas Igrejas Ortodoxas Vetero-Calendaristas, por exemplo) e outras regras observadas cuidadosamente, não receberam ainda uma atenção maior em nossos estudos.

A questão da relação comida-espiritualidade mereceria um extenso estudo antropológico e psicológico que enriqueceria nossa visão sobre o tema.

Nosso despretensioso artigo quis apenas levantar um véu, das centenas, que cobrem o tema.

V. Bibliografia citada

MONIER, M.-WILLIAMS. 2008. Sanskrit-English Dictionary. Varanasi: Indica Books.

LALANDE, André. 1999. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes.

STCHERBATSKY,Th. 1996. Buddhist Logic. New Delhi: Munshiram Manoharlal.

[1] A princípio, ‘nobre’ era quem recebia distinção por atos de heroísmo militar e serviço em defesa de um povo, de uma família ou de um domínio. Posteriormente, a nobreza passou a ser hereditária e, em sua última fase de decadência, podia ser comprada através de títulos pagos com dinheiro ou favores.

[2] Literalmente “o que não retorna”, o terceiro estágio dos quatro tipos de pessoas nobres, arya-pudgala. O título designa aquele que obteve o estágio anterior ao da quebra total de apegos, quando se tornará um Arhat.

[3] Um Buda solitário, ou seja, aquele que realizou a Iluminação pelos próprios esforços, em isolamento, recluso.

[4] Derivação da palavra sânscrita “bodhi-sakta”, um ser que está direcionado à Iluminação. É a corporificação do ideal do Budismo Mahayana.

[5] O mais profundo inferno, reservado aos seres mais malignos.

[6] Um ser cujas trevas interiores são tão densas que impossibilitam que ele manifeste a sua natureza búdica original.


André Otávio Assis Muniz

Arcebispo Presidente da Organização Religiosa Budista

Tendai Hokke Ichijô Ryu do Brasil.

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